segunda-feira, 29 de maio de 2017

UMA NANICA AUDACIOSA: UMA EMPRESA BRASILEIRA ENFRENTOU A APPLE (E PERDEU...)

Em 1984 o governo federal implementou a Política Nacional de Informática, que proibia a importação de   microcomputadores, com o objetivo de incentivar a fabricação nacional; os projetos de fabricação deveriam ser analisados e aprovados pela SEI - Secretaria Especial de Informática, órgão que tinha status de ministério. O resultado foi lamentável: micros passaram a ser montados aqui com componentes contrabandeados, pouquíssimo aconteceu em termos de desenvolvimento tecnológico e de pessoal e as empresas pagavam caro por equipamentos de qualidade duvidosa. Surgiram expressões novas, como "mercado cinza" e  "executivo de fronteira", para designar esse ambiente e os que nele operavam. 

Nesse cenário, a Unitron, uma empresa brasileira tentou uma jogada audaciosa: clonar o Macintosh, à época o mais poderoso micro da Apple e que era chamado Fat Mac. 

O original ou o clone? 

Baseada em engenharia reversa (que poderíamos chamar simplesmente de cópia), a empresa    apresentou à  SEI em 1985 um projeto visando a produzir um clone do Fat Mac, que chamaria de Mac 512. Obteve uma linha de crédito bancária, o apoio de um laboratório governamental (o CTI — Centro de Tecnologia da Informação) e contratou serviços de desenvolvimento de chips no exterior. Nesse mesmo ano, dois protótipos foram exibidos em seu stand na Feira Nacional de Informática. Como o projeto havia começado havia pouquíssimo tempo, suspeita-se que uma das máquinas exibidas ao público (a uma distância segura), e que executava vários programas para o Macintosh, era na verdade um Mac original, e não um clone - eles eram muito parecidos. A outra máquina, desligada e aberta para que suas partes internas pudessem ser vistas, provavelmente era mesmo um protótipo.

Em 1986, na mesma Feira Nacional de Informática, a Unitron exibiu mais  protótipos, e parecia óbvio que havia conseguido reproduzir o Mac. Na época, a Unitron queixava-se de que a SEI estava dificultando a importação dos drives de disquetes de 3" 1/2 e exigia que em vez deles, fossem usados os obsoletos drives de 5" 1/4 fabricados no Brasil. A Unitron recusou-se a acatar a orientação e decidiu ela mesma fabricar os drives, uma verdadeira proeza para uma empresa da periferia paulista com menos de 100 empregados; fica a dúvida: será que fabricou ou acionou "executivos de fronteira"?

Em 1987,  a Unitron já oferecia suas máquinas ao mercado; o preço era 700 OTN, cerca de R$ 45 mil de hoje (era tempo de inflação alta e usavam-se índices para converter diariamente os preços à moeda corrente). Nessa época, a Apple Computer decidiu que a história já havia ido longe demais e resolveu contra-atacar: dois Mac 512 (obtidos não se sabe bem como) foram levados para a sede da empresa, em Cupertino e desmontados para estudo. As semelhanças entre essa máquina e a Fat Mac deu a Apple um forte argumento para fazer com que o governo dos Estados Unidos se posicionasse contra uma empresa "pirata".

Por pressão do governo americano, que ameaçou impor barreiras aos produtos de exportação brasileiros (particularmente suco de laranja e sapatos), em 1988 a SEI indeferiu definitivamente o projeto do Mac, alegando que "a Unitron havia começado a comercialização do produto antes de sua aprovação final". 

A Unitron continuou a lutar apresentando novos projetos e indo à Justiça, mas acabou derrotada; reduziu o quadro de funcionários e passou a se dedicar à fabricação de outros produtos. 

sexta-feira, 26 de maio de 2017

SERÁ QUE JOESLEY ESTÁ FATURANDO MAIS ALGUM?????

O Mercado Livre, site de compras e vendas online, anunciava estar à venda um gravador igual ao que teria sido usado pelo "empresário" Joesley Batista para gravar suas conversas com o ainda presidente Temer.

O aparelho era chamado pelo vendedor “Gravador Pendrive Joesley JBS”; com o preço de R$ 69,90, não está mais disponível para compra, mas o vendedor oferecia um conjunto formado por “um manual de instruções e um pendrive espião”. O anúncio ressaltava que o dispositivo é discreto, moderno e perfeito para gravar “aulas, reuniões, seminários e investigar o que acontece quando você não está por perto”.

Também informava que o aparelho era igual ao que registrou as conversas nada republicanas entre Temer e Joesley, mas que não as trazia: “Pendrive virgem. Não tem a gravação [do presidente]. Somente o modelo é igual".

Pelo menos do ponto de vista desse vendedor, Temer tem razão: os fatos não estão paralisando os negócios...


terça-feira, 23 de maio de 2017

NUM JOGO DE GO, GOOGLE VOLTA A MARCAR PONTOS PARA A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

Em 1997, quando o campeão mundial de xadrez Garry Kasparov foi derrotado pelo computador Deep Blue da IBM, a repercussão foi imensa: dizia-se que em breve o computador superaria o homem em todos os campos.

Felizmente não foi isso que aconteceu, mas agora um novo episódio gera afirmações semelhantes, embora com menos repercussão, por se tratar de um jogo menos conhecido: o computador AlphaGo, do Google,  ganhou a primeira de três partidas de Go, antigo jogo asiático de estratégia, que disputou contra o número um do mundo, o chinês Ke Jie, de 19 anos, que havia se gabado – cedo demais – que poderia vencer uma “máquina sem alma”.  

O AlphaGo, criado pela DeepMind Technologies, filial do Google especializada em inteligência artificial com sede em Londres, causou sensação no ano passado ao vencer em quatro partidas o sul-coreano Lee Se-Dol - foi a primeira vez que um software venceu um grande jogador de Go.

O AlphaGo sem dúvida é um grande passo na área de inteligência artificial. O Go, nascido na China há mais de 2.500 anos é um jogo muito mais complexo que o xadrez; seu   tabuleiro (19 x 19 linhas) permite um número muito grande de jogadas possíveis, envolvendo conceitos estratégicos e exigindo muita intuição e criatividade, na busca do objetivo do jogo, que é basicamente ocupar espaços no tabuleiro. 

Vale registrar que o governo chinês proibiu a transmissão da partida para seu território...



quinta-feira, 18 de maio de 2017

ISSO É QUE É DRONE!!!!!

Com  frequência temos ouvido falar em drones, aviões controlados remotamente que podem ser utilizados para inúmeros fins, desde vigilância contra ataques ao meio ambiente e combate ao crime, como para fins militares – tem sido utilizados intensivamente pelos americanos no Afeganistão.


Quando ouvimos falar deles, quase sempre os associamos a aviões pequenos, como os aeromodelos controlados por rádio; isso quase sempre é verdade.

Mas agora, os americanos se superaram:  estão transformando aviões de caça F-16, que vem sendo utilizados por eles há cerca de 35 anos, em drones – a ideia é que, controlados remotamente, sejam utilizados na instrução de pilotos de caça, quer fazendo o papel de adversários, quer servindo simplesmente como alvos.


Quem deve estar morrendo de inveja são os nossos pilotos da FAB, que com a desativação dos Mirage, terão que se contentar com os F-5, que apesar de modernizados, entraram em operação em 1962 – o último lote deles que chegou à FAB foi comprado de segunda mão da Jordânia...

sábado, 13 de maio de 2017

NOVIDADE: TELHADOS SOLARES EFICIENTES E BONITOS

O sul-africano Elon Musk, aos 11 anos de idade, em 1982, criou um game que vendeu por 500 dólares a uma empresa de seu país. De lá para cá, criou e tem participação em empresas inovadoras como o PayPal, SpaceX, Hyperloop e Tesla Motors, esta voltada a carros elétricos.

Em outubro de 2016, anunciou a criação de um novo telhado solar, diferente dos que existem hoje: em vez de instalar painéis solares convencionais, pretos, sobre os telhados, como se faz habitualmente, ele escondeu as células fotovoltaicas (fabricadas pela Panasonic) debaixo de telhas de vidro translúcido, temperado e texturizado. O visual, que podemos checar nas fotos, é a alegria dos arquitetos: bonito, elegante, discreto. A energia excedente carrega uma grande bateria instalada no interior da casa.

O telhado já está à venda nos Estados Unidos – em outros países, a partir de 2018. Mas há um pequeno problema: o custo é de cerca de US$ 250 por metro quadrado – em uma casa térrea de 150 metros quadrados e telhado com 30 graus de inclinação, o custo do telhado estaria ao redor de US$ 42 mil, fora os impostos.

O assunto vem sendo discutido no Twitter, tendo Musk entrado na discussão (bem humorada), afirmando que o telhado, do ponto de vista econômico,  ainda não é vantajoso na maior parte dos locais, especialmente onde os impostos são elevados.

Talvez por isso Musk decidiu apresentar seu novo telhado solar nos estúdios da Universal, em Hollywood. As casas do set de filmagem, remodeladas pelas novas telhas de vidro, eram de um antigo set de Desperate Housewives. A apresentação já indica que, como os carros da Tesla, o telhado vai ser, a princípio, direcionado à elite americana.

Mas há obstáculos, especialmente no campo financeiro: até recentemente, os negócios de Musk no campo da energia solar estavam concentrados em uma de suas empresas, a SolarCity, que tem dívidas da ordem de US$ 3 bilhões e aguarda aprovação dos acionistas para se fundir com a Tesla. A expectativa é que essa junção impulsione os negócios das empresas.

Vai ser um momento decisivo para o futuro das duas empresas e do próprio Musk. O mercado pode não acreditar nos planos do empresário e derrubar as duas empresas. Mas a aposta atual é que as telhas solares sejam deslumbrantes o suficiente para ofuscar as dúvidas dos investidores.


quarta-feira, 10 de maio de 2017

EMPREENDEDORISMO, TECNOLOGIA E CONTEÚDO

Neste momento em que se fala tanto em empreendedorismo e em que vivemos num ambiente de mudanças tecnológicas constantes, é oportuno lembrar um pioneiro que viveu em tempos semelhantes (embora a palavra empreendedorismo ainda não existisse), aproveitando tecnologia que surgia para construir grandes redes e revolucionando a mídia e a vida cotidiana das pessoas, de forma análoga à que a Internet vem fazendo hoje.
David Sarnoff nasceu na Rússia em 1891, tendo sua família logo imigrado para os Estados Unidos. Órfão de pai começou a trabalhar muito cedo, como jornaleiro, para ajudar a sustentar sua família. Aos 15 anos, comprou um aparelho de telegrafia e aprendeu o código Morse, o que o ajudou a ser contratado como contínuo pela Marconi Wireless Telegraph Co., tendo sido promovido a telegrafista em 1908 – os telegrafistas eram profissionais de elite, mas que foram substituidos pelo avanço tecnológico: equipamentos de rádio em um primeiro momento, telex depois e outras tecnologias praticamente eliminaram sua necessidade.
Como acontece às vezes, Sarnoff estava no local certo e na hora certa:  na noite de 14 de abril de 1912 estava de plantão e recebeu uma mensagem que se tornou famosa: "SS Titanic ran into iceberg, sinking fast" (SS Titanic bateu em iceberg, afundando rápido). Sarnoff permaneceu em seu posto pelas próximas 72 horas, transmitindo para o mundo as mensagens que chegavam dos navios de socorro - dizem que essa história não é verdadeira, que nessa época Sarnoff já tinha funções de chefia na empresa, mas como dizem os italianos, "se non è vero, è ben trovato...".  
As habilidades e a capacidade de empreender de Sarnoff fizeram-no subir rápidamente: em 1915 ele sugeriu à empresa a criação dos antecessores dos atuais aparelhos domésticos de rádio – à época, rádio era assunto principalmente para amadores entusiasmados. Sua idéia foi considerada inviável do ponto de vista comercial – consta que executivos da empresa teriam dito: "a caixa de música sem fio não tem nenhum valor comercial. Quem pagaria para ouvir uma mensagem enviada a ninguém em particular?".
Mas, ele teve outra oportunidade. Em 1919, a General Electric comprou a Marconi e formou a RCA (Radio Corporation of América) e Sarnoff foi à luta: para criar uma massa crítica de ouvintes dispostos a comprar seus rádios, era necessário criar estações comerciais, que veiculassem música, notícias e esporte; em 1921, ele conseguiu transmitir a luta Jack Dempsey versus Georges Carpentier, pelo título mundial de boxe - os rádios da RCA fizeram sucesso: 300.000 pessoas ouviram a transmissão e em três anos  mais de um milhão de aparelhos foram vendidos com o nome comercial de “Radiola”.   Mas era preciso mais: em 1926, já como um dos principais executivos da RCA, formou a NBC (National Broadcasting Co.), uma subsidiaria que criaria um grande número de emissoras, gerando ainda mais compradores para os aparelhos; a NBC foi a primeira rede comercial de rádio.
Outra amostra de sua genialidade: os gramofones estavam sendo substituídos, desde 1906, por equipamentos com alto-falantes internos, fabricados pela Victor Talking Machine Co. e comercializados sob a marca “Victrola”;  Sarnoff promoveu a fusão das empresas (surgia a RCA-Victor) e das tecnologias, juntando o rádio e o toca-discos num só móvel e criando os antepassados dos atuais aparelhos de áudio. Ficou famoso o logo da companhia, mostrando um cachorrinho ouvindo a voz de seu dono em um gramofone - "A Voz do Dono" (His master's voice" tornou-se popular também no Brasil.
O sucesso das medidas de Sarnoff levou os investidores à loucura: as ações de RCA chegaram a valer US$ 573,75 cada, até que em 1929 o “crash” da bolsa de New York levou seu preço a US$ 2,25.
Sarnoff tornou-se presidente da RCA em 1930, incentivando pesquisas acerca de televisão, tecnologia que ele já propusera em 1923. Em 1939, quando da inauguração da Feira Mundial de New York, a abertura do “stand” da RCA foi televisionada – era uma nova era que se iniciava, com Sarnoff dizendo que a tecnologia ali mostrada era provisória, que cores, gravação em vídeo, etc., chegariam em breve. A 2a. Guerra Mundial (da qual Sarnoff participou atuando na área de comunicações, chegando a general do exército americano) só permitiu que começassem a ser vendidos os aparelhos domésticos de TV em 1946; em 1951, a NBC começou a transmitir programas em rede nacional.
Enquanto Sarnoff era extraordinário quanto ao entendimento e aplicação da tecnologia, seu grande rival, William Payle, da CBS (Columbia Broadcasting System) era imbatível no que hoje chamamos “conteúdo”; Sarnoff focava na tecnologia, Pailey na programação – e na medida em que tecnologia se tornava uma “commodity” (algo que se podia obter pagando e não investindo em criação), a maior habilidade da CBS em atrair e reter talentos levou-a à vitória no longo prazo: em 1986, cinco anos após a morte de Sarnoff, a General Electric assumiu o controle do grupo RCA, que àquela altura já havia perdido boa parte de seu brilho. 
Hoje a RCA e a NBC são novamente grandes empresas, mas essa já é outra história; o importante é lembrar que talento e dedicação são fundamentais e que a tecnologia, sozinha, não tem grande utilidade.

domingo, 7 de maio de 2017

BASIC - HÁ 53 ANOS, O INÍCIO DE UMA NOVA ERA

Na madrugada do dia 1º de maio de 1964, dois professores do Dartmouth College rodaram o primeiro programa na nova linguagem que vinham construindo: o Basic.

Os professores John G. Kemeny e Thomas E. Kurtz vinham tentando desenvolver uma ferramenta que facilitasse o ensino e o uso de computadores pelos seus alunos de graduação; as linguagens disponíveis para esse fim, naquela época, especialmente o Fortran e o Algol, eram muito complexas.

Os dois professores começaram a trabalhar no assunto em 1956, tendo criado inicialmente uma linguagem que chamaram Dartmouth Simplified Code, ou Darsimco; a seguir, surgiu a Dartmouth Oversimplified Programming Experiment, ou Dope. Insatisfeitos, continuaram suas pesquisa, até chegarem ao que chamaram Beginner's All-Purpose Symbolic Instruction Code, ou Basic.

Por volta das 4 horas da manhã daquele dia, compilaram o primeiro programa em Basic, utilizando o “mainframe” General Electric GE-225 da escola. Os princípios básicos que guiram o projeto, previam que a ferramenta deveria ser: 

·facilmente utilizada por iniciantes

·de uso geral

·estruturada de forma a permitir que fossem incorporadas features mais complexas sem que o uso por iniciantes fosse prejudicado

·interativa

·capaz de gerar mensagem de erros facilmente entendidas pelos usuários

·de processamento rápido 

·utilizável sem que os programadores conhecessem o hardware ou o sistema operacional.

Um programa em BASIC tradicional tem suas linhas numeradas, sendo padrão usar números de 10 em 10 (o que facilita a posterior introdução de linhas intermediárias, se necessário). Os comandos são poucos, simples e facilmente compreensíveis na língua inglesa (INPUT, IF,...). Um programa que imprime todos os números pares entre A e B, entrado via teclado, poderia ser escrito como:

10 INPUT A,B
20 FOR I=A TO B STEP 1
30 IF MOD(I,2)>0 THEN 50
40 PRINT I
50 NEXT I
60 END

Fiéis aos seus objetivos educacionais, Kemeny e Kurtz passaram a distribuir o software gratuitamente; rapidamente professores e estudantes de Dartmouth e de outras escolas passaram a utiliza-lo; mais tarde, em 1975, Paul Allen e Bill Gates lançaram uma versão que seria utilizada por computadores pessoais.

Mas Kemeny e Kurtz continuaram inovando: em 1964, um time de estudantes de Dartmout liderado por eles lançou o DTSS - Dartmouth Time-Sharing System, o primeiro sistema time-sharing a ser utilizado em larga escala, tendo permanecido em uso até praticamente o ano 2000. Provavelmente existem mais variações de BASIC do que de qualquer outra linguagem de programação.

Kemeny era realmente um revolucionário: foi presidente (diretor) de Dartmouth de 1970 a 1981; em 1972, tornou-a uma instituição que passou a aceitar estudantes do sexo feminino, o que não acontecia desde a fundação da escola, em 1769.

Dartmouth tem cerca de 6,5 mil estudantes, dos quais cerca de 4 mil na graduação; faz parte da Ivy League, um termo que compreende 8 escolas americanas de elite que se caracterizam pelo alto nível de ensino e pelo rígido processo de seleção de alunos; dentre essas escolas estão Harvard, Princeton e Yale. No ano de 2010, o jornal norte-americano U.S News & World Report indicou Dartmouth como a melhor instituição de graduação dos Estados Unidos.


terça-feira, 2 de maio de 2017

BYOD, MILLENNIALS E SEGURANÇA DA INFORMAÇÃO

Em meados de 2012 dissemos que cada vez com mais frequência ouviríamos falar em BYOD, sigla derivada  da frase “bring your own device”. No jargão empresarial, a sigla e a frase traduzem a estratégia corporativa de permitir que o empregado use seus próprios   equipamentos  para trabalhar. Esse BYOD era, à época,   um dos conceitos mais recentes no mundo da Tecnologia da Informação.

Dissemos que, apesar das vantagens do BYOD, as empresas deveriam preocupar-se muito com a popularização do conceito, em especial no que se referia à segurança de seus dados.

Isso vem se confirmando:  em pesquisa recente (The Mobile Enterprise Information Landscape) com 4 mil trabalhadores nos Estados Unidos e Reino Unido, realizada pela empresa de estudos de mercado Ipsos Mori e encomendada pela plataforma de colaboração Huddle, mais da metade dos funcionários admite guardar, compartilhar e trabalhar em documentos corporativos nos seus dispositivos pessoais – e este número está crescendo.

Se você ainda acredita que a política de BYOD adotada pela maioria das empresas é eficaz em proibir os funcionários de manterem dados sensíveis nos seus smartphones pessoais, laptops e tablets, de forma a manter a empresa segura é bom repensar. Poucos trabalhadores estão realmente cientes da política BYOD da empresa (quando existe). E menos ainda a respeitam.

Mesmo que a empresa não esteja interessada em BYOD, ainda assim terá problemas. A pesquisa constatou que 73% dos entrevistados nos Estados Unidos estão transferindo aplicativos e dados para suas máquinas sem o conhecimento da empresa, como mostra o gráfico abaixo:

O problema da segurança só vai piorar à medida que os “millennials”, jovens nascidos no final do século XX, aumentarem sua presença no mercado de trabalho. Isto porque essa geração não se preocupa realmente com a segurança ou com o stress que a falta dela provoca no departamento de TI – eles só querem BYOD, sem restrições.

O estudo chama os jovens entre 18 e 24 anos de “gourmets na violação da segurança” empresarial, porque não se preocupam com os documentos corporativos. E isto não é bom, o perigo só vai aumentar, já que os “millennials” vão tornar-se em breve a maior parte da força de trabalho, de acordo com o U.S. Bureau of Labor Statistics. No Brasil, as coisas não devem ser muito diferentes.

segunda-feira, 1 de maio de 2017

VIDEODISCO: UM GRANDE FRACASSO

Na área de tecnologia é frequente que produtos em que os fabricantes depositavam muitas esperanças fracassem espetacularmente. 

Um desses fracassos foi o do videodisco SelectaVision, da RCA. Ansiosamente aguardado pelo mercado, foi lançado em 1.981 pela RCA, que gastou 15 anos e US$ 200 milhões (hoje cerca de US$ 600 milhões) em seu desenvolvimento.  

O videodisco, que pode ser definido como um disco de vinil de 12 polegadas que armazenava vídeos (filmes e shows, principalmente), chegou a cinco mil lojas espalhadas pelos Estados Unidos em março daquele ano, embalado por uma campanha publicitária batizada “National Demonstration Week” e que custou US$ 20 milhões, hoje cerca de US$ 60 milhões.

O videodisco tinha uma vantagem sobre os videoteipes da época: qualidade de imagem e som muito melhor e um serviço diferenciado: se a loja não tivesse em estoque o disco desejado pelo cliente, a RCA o enviava rapidamente pelo correio – era um ponto favorável às lojas: não era necessário manter um grande estoque de discos.


Mas havia problemas: o aparelho custava cerca de US$ 500 (hoje cerca de US$ 1.500) e os discos variavam entre 15 e 30 dólares, muito dinheiro para a época - hoje os preços seriam entre 45 e 90 dólares, aproximadamente.

A RCA esperava vender 200 mil desses aparelhos em 1981 e acreditava que o equipamento poderia em dez anos estar em 50% das residências americanas, gerando negócios da ordem de US$ 7,5 bilhões ao ano - US$ 22 bilhões hoje. Isso não aconteceu – o preço era alto e uma nova tecnologia despontava no horizonte, muito mais barata e ainda melhor em qualidade: o CD. Além disso, os videoteipes, principalmente por permitirem pirataria, não saíram do gosto do consumidor.

Em três anos a RCA conseguiu vender cerca de 550 mil aparelhos – em 1984, retirou o produto de linha, tendo perdido US$ 1,5 bilhão no projeto, o que ajudou a empresa a quebrar e ser adquirida mais tarde pela General Electric.

quarta-feira, 26 de abril de 2017

TOYOTA INICIA TESTES COM CAMINHÃO MOVIDO A HIDROGÊNIO

A revista Quatro Rodas publicou recentemente matéria relatando testes que a Toyota vem realizando em parceria com a Kenworth, fabricante de caminhões pesados. A ideia básica é desenvolver um caminhão movido a hidrogênio.

O hidrogênio é, em tese, o combustível perfeito: não emite poluentes (seu uso gera apenas água), não precisa ser carregado por horas na tomada, seu reabastecimento é como o de um carro a gasolina e trabalha com motores elétricos, que geram bastante torque. O aspecto ambiental é bastante importante, pois nos países mais desenvolvidos o setor de transporte é um dos maiores geradores de gases ligados ao efeito estufa, além de consumir um recurso finito, o petróleo. Apesar dessas vantagens, sua aplicação prática como combustível pouco evoluiu desde que o conceito surgiu, em meados do século passado.

Tentando viabilizar o uso comercial dessa tecnologia, a Toyota criou o Projeto Portal, que pretende estudar a viabilidade de usar hidrogênio como combustível para grandes caminhões - o modelo que vem sendo usado nos estudos é o Kenworth T660No protótipo, a parte da cabine destinada ao leito foi ocupada por quatro tanques de hidrogênio sob alta pressão, de 40 quilos, e duas baterias de íons de lítio de 6 kWh.   São 670 cv e 135,1 mkgf de torque, números equivalentes ao dos motores diesel usado por caminhões deste porte.

Isso é suficiente   para percorrer 240 km com carga de 27,3 toneladas, ou 384 km com 16,3 t, pouco em relação ao um caminhão convencional:   com dois tanques de 120 litros um Kenworth percorre mais de 1.900 km sem reabastecer.  Outro problema, além da falta de qualquer tipo de infra-estrutura para o hidrogênio, o hidrogênio é caro. Embora seja o elemento mais abundante no universo, precisa-se de muita energia  para obtê-lo de forma a que possa ser usado como combustível. Talvez uma frota maior concentrada em determinadas rotas poderia viabilizar uma rede de abastecimento de veículos a hidrogênio.

Os vídeos abaixo mostram como o caminhão em teste acelera mais rapidamente que um caminhão convenciona, o que é importante em veículos desse tipo e também o processo de montagem do veículo. 


Por enquanto, o objetivo é provar que a tecnologia pode ser confiável para uso diário. A questão da autonomia deve ficar para depois.




domingo, 23 de abril de 2017

ALAN TURING: UMA FIGURA TRÁGICA

Alan Turing (1912 - 1954), foi um cientista inglês que se destacou nos campos da matemática, criptoanálise e computação; nessa última área seus trabalhos foram tão importantes que muitos o consideram o pai da ciência da computação e da inteligência artificial, tecnologias que estão dando o tom à nossa vida diária.

Alemães trabalhando com a Enigma
Durante a Segunda Guerra Mundial, Turing chefiou uma equipe que buscava decifrar mensagens codificadas expedidas pela marinha alemã; com esse trabalho, gerou muitas contribuições para o desenvolvimento do computador Colossus, que ajudou os aliados a quebrar os códigos gerados pela máquina  Enigma, que era extensivamente utilizada pelos alemães para criptografar suas mensagens, e que era por estes considerada inviolável. 

Essa quebra foi muito importante para a vitória Aliada naquele conflito, após o qual Turing continuou trabalhando nas áreas de computação e química. O Colussus foi um passo importante para a criação dos atuais computadores.

O Colossus
Turing era um atleta, um maratonista: seu melhor tempo foi apenas onze minutos maior que o do vencedor dessa prova nas Olimpíadas de 1948; nesse mesmo ano venceu uma prova tipo cross-country, chegando à frente do ganhador da medalha de prata naqueles Jogos.

O fim da vida de Turing foi trágico: homossexual, em uma época que isso era crime no Reino Unido, foi processado e condenado em 1952. Como alternativa à prisão, aceitou passar pelo que era chamado “castração clínica”, processo que previa a aplicação de hormonios femininos aos condenados.

Turing parece não ter suportado as pressões que recebeu: em 1954, poucas semanas antes de completar 42 anos, teria se suicidado, comendo uma maçã que envenenara  com cianeto.

Somente em 2009 o governo inglês fez um pedido formal de desculpas pelo tratamento que deu a Turing, reconhecendo sua importância para o esforço de guerra e para o desenvolvimento da ciência e da tecnologia.


 

quarta-feira, 19 de abril de 2017

O LATIM, A PONTE E OS PRAZOS - COM POUCA TECNOLOGIA

Num passado muito remoto, lá pelos anos sessenta do século passado, as crianças estudavam latim – e vejam bem: naquilo que se chamava primeira série do Ginásio, e que hoje creio seja a quinta série, série a que normalmente se chegava aos onze anos!

Um dos livros mais utilizados para o ensino do latim, era o “C. Ivli Caesaris Commentariorvm De Bello Gallico“, ou “Comentários de Caio Júlio César sobre as Guerras na Gália”, mais conhecido entre nós alunos (sim, eu era um deles), como “De Bello Gallico”; esse Júlio César era o próprio, o imperador Romano.

Imaginem como se sentia um garoto ao abrir a primeira página do livro, e descobrindo logo de saída que “Gallia est omnis divisa in partes tres, quarum unam incolunt Belgae, aliam Aquitani, tertiam qui ipsorum lingua Celtae, nostra Galli appellantur” – em bom português, “A Gália é dividida em três partes, uma habitada pelos Belgas, outra pelos Aquitânios e a terceira por aqueles que em sua língua são chamados Celtas e na nossa Gauleses” – e sabendo que era de muito bom tom decorar pelo menos essa parte.   Até hoje me lembro do sorriso bondoso de meu primeiro professor de latim, o “Frater” André diante do meu pânico ao saber que com ele havia tirado minha primeira “nota vermelha”...

A Gália era dominada pelos Romanos, e cobria uma área hoje constituída por algo como o norte da Itália, partes da Suíça, França, Bélgica, Alemanha, etc. Sua fronteira com as terras dos “bárbaros”, ao leste, era o Rio Reno. No ano 58 A.C., muitos dos povos da área começaram a se revoltar contra os  Romanos, iniciando aquelas que foram chamadas “as Guerras na Gália”  e que são descritas no livro - é nesse contexto que estão ambientadas as aventuras de Asterix.   

Mais do que guerras tratavam-se de revoltas mais ou menos localizadas, ora de alguns povos contra os Romanos, ora entre povos da área, com os Romanos apoiando um dos lados, ora contra os “bárbaros”.

Em um de seus capítulos, o livro narra que alguns bárbaros cruzaram o Reno e atacaram   povoados gauleses aliados dos Romanos, e estes, comandados pessoalmente por César, que estava na região, resolveram retaliar, atravessando o rio e procurando dar um exemplo aos atacantes.

Não há certeza, mas creio que o rio foi cruzado na altura do que hoje é a cidade de Bonn, na Alemanha. Com um detalhe: não se julgou digno que o Imperador atravessasse o rio utilizando um barco – para isso construiu-se uma ponte. Nessa área, a largura do rio é de várias centenas de metros; os Romanos construíram uma ponte de madeira, e paralela a ela uma barreira de troncos, para evitar que barcos em chamas lançados pelo inimigo pudessem descer a correnteza e atingir a ponte. Cruzado o Reno, caçados alguns bárbaros, destruídos alguns rebanhos e aldeias, os Romanos atravessaram novamente o rio e destruíram a ponte.

Mas a ideia não é discutir o latim ou as guerras, mas sim alguma coisa que ao ler o “De Bello Gallico” (desta vez em inglês, pois meu latim nunca foi suficiente para enfrentar o original) me impressionou: alguém consegue dizer em quanto tempo se construiu a dita ponte? Algumas centenas de metros de comprimento, mais a barreira de troncos, num rio profundo, por onde hoje navegam grandes navios e tecnologia de dois mil anos atras. Provavelmente só lendo o livro: do momento em que se decidiu a construção até o cruzamento do rio (houve necessidade de cortar as árvores, preparar as tábuas para o piso, etc.) passaram-se exatamente dez (isso mesmo, dez) dias – dias e não semanas ou meses, e sem serras elétricas, tratores, guindastes, software para gerenciamento de projetos, etc!


Hoje, na vida empresarial, ao tomarmos conhecimento dos prazos que nos são pedidos, especialmente para o desenvolvimento de projetos envolvendo Tecnologia da Informação, frequentemente ficamos chocados.  Obviamente não se pretende construir uma ponte sobre o Reno  em dez dias, mas certamente uma análise mais fria dos cronogramas, eliminando tarefas não essenciais, aperfeiçoando processos, checando os prazos, etc., pode gerar grande economia de tempo e dinheiro, mantendo-nos competitivos e permitindo-nos aproveitar melhor as “janelas de mercado” que se nos oferecem. 

Cabe lembrar o mote: KISS –  “Keep It Simple, Stupid”, ou correr o risco de quando a ponte ficar pronta, já não ser mais necessário cruzar o rio.... 

E a contribuição do Prof. Laércio Cruvinel, lembrando-nos o mote da forma que poderia ter sido colocado pelos romanos: custodiunt illud simplex, stultus.

sábado, 15 de abril de 2017

FORD LANÇA VEÍCULO HÍBRIDO A SER UTILIZADO PELAS FORÇAS POLICIAIS



A Ford acaba de anunciar o lançamento do Police Responder, um carro híbrido destinado ao uso pelas forças policiais. 

O carro é basicamente um Ford Fusion com algumas modificações e dá seguimento a uma tradição: a empresa fornece veículos às polícias desde de que lançou seu Modelo T, em 1908. 

O Responder faz parte de um pacote de 13 veículos híbridos que a montadora vai anunciar até 2020. A empresa está investindo 4,5 bilhões de dólares em um plano de expansão de carros elétricos em seu portfólio. Além de aspectos ambientais, espera-se que em função das características do uso policial, o Rersponder gere grande economia de combustível.

A animação abaixo mostra uma evolução dos modelos fornecidos pela Ford às polícias americanas.    


terça-feira, 11 de abril de 2017

JOHN GLENN - UM HERÓI DA CORRIDA ESPACIAL


Glenn e a Friendship 7

Em 20 de fevereiro completaram-se 55 anos da viagem do astronauta John Glenn (1921-2016), o primeiro americano a voar em torno da Terra. Não foi o primeiro a ir ao espaço – o russo Yuri Gagarin foi o pioneiro, em abril de 1961, quando deu uma volta à Terra. A viagem de Glenn foi um fato marcante da corrida espacial, que atingiu seu ápice com a chegada à Lua em 1969.

Glenn, que era um piloto dos fuzileiros navais, voou em uma capsula chamada Friendship 7, com cerca de 3 metros de altura por 2 de largura, que deu 3 voltas ao redor da terra, atingindo uma altitude de cerca de 260 quilômetros, pousando no Oceano Atlântico depois de cerca de 5 horas de voo. 

Diferentemente dos russos, que só anunciavam suas viagens após a volta dos astronautas, os americanos anunciaram o voo previamente, tendo a TV dado ampla cobertura ao mesmo.

Glenn continuou na NASA até sua aposentadoria, tendo depois sido senador por 25 anos. Em 1998, com 77 anos voltou ao espaço, a bordo do ônibus espacial Discovery; até sua morte, continuou um ardoroso defensor da exploração do espaço com o uso de vôos tripulados. 

Para os apaixonados por computadores: o voo da Friendship foi monitorado por computadores IBM, que forneciam informações aos controladores sobre a localização da nave e determinaram o momento em que deveriam ser acionados os foguetes que fariam a Friendship pousar no Atlântico Norte.   Uma curiosidade: o pouso ocorreu a cerca de 40 milhas do ponto previsto, em função de uma falha de engenharia de software: o aplicativo que determinou o acionamento dos foguetes não levou em conta o peso que a nave perdeu durante a viagem ao ejetar os foguetes e outras partes que prejudicariam a aerodinâmica durante o pouso. Glenn teve que esperar 17 minutos para ser resgatado - o navio que o recolheu viu a nave quando esta estava descendo e foi em sua direção.  

Os computadores utilizados tinham uma capacidade de processamento de cerca de um milésimo (1/1000) daquela de um iPhone atual!