terça-feira, 18 de junho de 2019

CAMUFLAGEM DAZZLE: COMO A BAIXA TECNOLOGIA PODE SER ÚTIL

Normalmente associamos a palavra "tecnologia" a coisas bastante sofisticadas, como a computação nos dias atuais. 

Mas uma boa definição para o termo seria "conjunto de técnicas de um domínio particular", envolvendo ou não coisas mais sofisticadas. De fato, a palavra tecnologia   vem do grego tekhne que significa “técnica, arte, ofício”, juntado à palavra logos, também grega, que significa “conjunto dos saberes”.

É de uma tecnologia dessa espécie, baixa, muito simples, que falaremos hoje, a camuflagem Dazzle - em inglês, o verbo dazzle significa algo como "ofuscar" - a foto ao lado mostra o navio West Mahomet camuflado dessa forma.

Em 1917, durante a Primeira Guerra Mundial, parecia ser impossível conter os submarinos alemães que atacavam os navios ingleses - centenas deles foram afundados. Os submarinos podiam aguardar suas presas ocultos,  submersos ou meio submersos, enquanto os navios, podiam ser vistos ao longe, graças ao seu tamanho, mastros e chaminés fumacentas. 

Pensando no assunto, o artista inglês  Norman Wilkinson, oficial da marinha que servia a bordo de submarinos, teve uma ideia: já que era impossível pintar um navio para que ele não pudesse ser visto por um submarino, por que não pinta-lo de maneira a que os submarinistas inimigos tivessem dificuldade para definir seu tamanho e rumo utilizando seu periscópio? 

Essa definição era fundamental para que os torpedos fossem disparados com precisão e o esquema ao lado mostra como os submarinistas poderiam ser induzidos a erro pelos navios camuflados dessa forma. 

Wilkinson propôs então a camuflagem Dazzle, pintando nos navios listras, formas curvas, ziguezagues etc., utilizando cores como branco, preto, azul, verde etc. - mais de 2 mil navios foram pintados em cerca de um ano. Outros mil foram pintados pela marinha americana; inúmeros padrões Dazzle foram desenvolvidos por artistas ingleses e americanos. 

O publico não foi unânime: a nova camuflagem foi chamada de "bando de ovos de Páscoa marítimos", "cruzamento entre a explosão de uma caldeira e um acidente de trem" etc. - quanto ao inimigo, parece ter se convencido da utilidade da Dazzle, pois começava a pintar seus navios da mesma forma quando a guerra acabou; isso pode ser explicado pela imagem abaixo, que mostra como um navio seria visto através do periscópio de um submarino, com e sem camuflagem.  


sexta-feira, 14 de junho de 2019

HACKERS SEMPRE EXISTIRAM: EM 1834 UMA REDE DE DADOS FOI HACKEADA NA FRANÇA

Nestes tempos em que se fala muito de hackeamento de redes, vale a pena voltar a  falar de ataques a redes ocorridos no passado, quando computadores e celulares  não existiam.

Já  falamos do assunto em post anterior, relatando ataques ocorridos quando o conceito de telegrafia elétrica estava sendo apresentado.

Hoje trataremos de ataque ainda mais antigo.  Em 1794, o governo francês criou um sistema de comunicação chamado telégrafo ótico ou semafórico. Nada tinha a ver com o telégrafo convencional, inventado bem mais tarde - parecia-se com o sistema de comunicações entre navios que era usado na época, em que bandeirolas eram usadas para compor mensagens.  

O sistema era composto por duas grandes hastes instaladas no topo de edificações parecidas com moinhos de vento; cada posição das hastes significava uma letra, sendo cada haste movida por cordas e roldanas, de forma a representar a letra seguinte.

Munido de telescópio, o operador da torre seguinte copiava a mensagem que chegava e a retransmitia para a torre seguinte - era um sistema bastante eficiente e cobria as principais cidades do país.

Em 1834, o sistema foi hackeado pelos gêmeos François e Joseph Blanc. Os irmãos operavam na bolsa de Bordéus e caso soubessem qual era o comportamento da bolsa de Paris, a mais importante da França, poderiam levar vantagem nas compras e vendas de ações.

O telégrafo ótico seria a forma ideal para obter essas informações, porém seu uso era restrito ao governo. Mas os irmãos estudaram o sistema e descobriram que ele tinha uma espécie de tecla "backspace", que servia para "apagar" a informação anteriormente transmitida caso houvesse erro.

De posse dessa informação, os irmãos subornaram um dos operadores do sistema para incluir determinados "erros" conforme a bolsa de Paris subisse ou descesse. 

Um cúmplice dos irmãos, munido de um telescópio, captava essas informações, que eram usadas para otimizar os resultados dos negócios dos Blanc, que durante dois anos ganharam fortunas, sendo tidos como gênios das operações em bolsa. 

Mas um dia o esquema ruiu: o cúmplice adoeceu e pediu a um amigo que o substituísse por alguns dias; esse amigo simplesmente denunciou o esquema às autoridades. 

Os irmãos foram presos em 1836, mas logo depois foram soltos. Por que? Porque não havia nada que proibisse o "hackeamento" da rede semafórica; logo em seguida foi criada uma lei que punia severamente esses ataques.

Mas os gêmeos, sob a liderança de François (foto ao lado) prosseguiram com negócios pouco convencionais, especialmente cassinos, tendo participado ativamente na criação do cassino de Monte Carlo, em Mônaco. 

Com a jogatina também ganharam muito dinheiro, tendo sido os responsáveis pela introdução do modelo atual de roleta em 1843 - dizem que François teria feito um pacto com o diabo para ter sucesso nesse negócio, o que explicaria o fato de as roletas terem números de 0 a 36, que se somados dão 666, "o número da besta". 

Como dissemos no post que citamos acimanihil novi sub soli... 

terça-feira, 11 de junho de 2019

O GURU DA NINTENDO


Hiroshi Yamauchi, falecido em 2013 aos 85 anos, tinha 22 anos quando assumiu a empresa fundada pelo avô e transformou a então fabricante de baralhos em um gigante mundial dos videogames. 

Ele comandou a Nintendo por 53 anos e mudou o mercado de entretenimento com o lançamento em 1983 da Nintendo Famicom (Family Computer), também conhecida como NES (Nintendo Entertainment System) e que foi um dos primeiros sucessos no ramo de games para serem jogados em casa, tendo vendido 60 milhões de unidades.

Yamauchi, que dizia não jogar, afirmava ser “um vendedor de entretenimento” e sob sua liderança, a Nintendo também lançou os consoles Super Nintendo, Nintendo 64, o videogame portátil Game Boy e as séries “Super Mario Bros.”, “Star Fox” e “The Legend of Zelda”.

Mesmo depois de sair da presidência da Nintendo em 2002, Yamauchi continuou como consultor da empresa e em 2012  foi listado como o 12º japonês mais rico na lista da revista Forbes, com um patrimônio estimado em 8 bilhões de dólares. Foi também dono do time de baseball Seattle Mariners.  

A Nintendo, que chegou a ter 90% do mercado de videogames hoje vem enfrentando concorrentes poderosos, como mostra o gráfico abaixo que mostra as vendas de consoles em milhões de unidades, mas de qualquer forma ainda é uma uma força nessa área, não se podendo falar em game over; Yamauchi disse certa vez que “a guerra dos games nunca vai terminar. Ninguém sabe o que surgirá amanhã”.