sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

FORTRAN: MAIS DE 60 ANOS DE BONS SERVIÇOS

Dia desses me dei conta de que realmente sou um “dinossauro” da TI: comecei em 1970, programando em Assembler para um Univac 1005 (uma “poderosíssima” máquina com 4K, isso mesmo, 4K, de memória principal) – esse “mainframe”, cuja configuração básica aparece a lado, era apoiado por um sistema ”convencional” (tabuladoras, perfuradoras e classificadoras de cartões - Remington-Sperry-Powers, que foi o antecessor dos 1005. 

Note-se que esses cartões, com furos redondos, cuja imagem está logo abaixo, tinham 90 colunas, ao contrário dos IBM que tinham 80 - isso era muito vantajoso em termos de entrada de dados e lógica de programação. 

E o nome da coisa não era TI ou Informática, mas sim Processamento de Dados e alguns ainda chamavam o computador de “cérebro eletrônico”… 

Nessa onda de nostalgia, lembrei-me de um artigo que “New York Times” publicou há algum tempo  acerca do desenvolvimento da linguagem Fortran, que quase todos os meus contemporâneos usaram - James Gray, um pesquisador na área de software que trabalhou para a Microsoft, chegou a dizer, parafraseando a Bíblia: “No princípio, era o Fortran”… Vale lembrar que Gray desapareceu no mar com seu veleiro em 2007.

Lembramos essas histórias porque julgamos oportuno dar aos nossos jovens profissionais e estudantes uma visão do passado, para que possam se preparar melhor para o futuro. Lembra o artigo que John Backus (que também morreu em 2007) trabalhava para a IBM, e em 1953, ao 28 anos de idade, solicitou aos seus superiores autorização para iniciar pesquisas acerca do que chamou de “uma melhor maneira de programar” – era uma época em que se usava linguagens de muito baixo nível, praticamente linguagem de máquina, o que tornava a programação extremamente complexa, trabalhosa, e consequentemente, lenta e cara.

Foi formada uma equipe, que chegou a ter dez profissionais; era um time com forte treinamento em matemática, mas no mais bastante eclética: reunia desde um especialista em criptografia a uma estudante recém formada, passando por um pesquisador do MIT e por um especialista em xadrez. Foi utilizado para o projeto um computador IBM 704 (foto ao lado), uma máquina bastante poderosa para a época – mas disponível para a equipe apenas no período noturno…

Segundo Backus, várias foram as causas do sucesso do Fortran: primeiramente, o grupo definiu que desenvolveria uma linguagem que pareceria um misto de inglês com álgebra, buscando uma sintaxe similar à das fórmulas utilizadas por cientistas e engenheiros, os grandes usuários de computadores na época - ao lado, uma amostra de código Fortran.

Dessa forma, a linguagem poderia ser facilmente usada por esses profissionais, praticamente sem auxílio de programadores, que eram os únicos responsáveis até então pela tradução dos problemas para a linguagem da máquina e trabalhavam em binário ou usando Assemblers, linguagens que utilizavam abreviações como PRT para comandos de impressão, RD para leitura, ADD para soma etc. – essas abreviações, que aparecem no exemplo ao lado, eram usadas pelo montador (Assembler) para gerar as instruções em binário. Um problema adicional, é que cada máquina tinha seu próprio Assembler. 

O Fortran tinha seu foco mais no problema que o usuário tentava resolver utilizando o computador do que na máquina propriamente dita. Uma linha de código Fortran gerava várias instruções em linguagem de máquina, ao contrário dos Assemblers, em que a relação era quase sempre um para um; por essa razão, Fortran é considerada a primeira linguagem de alto nível. 

O Fortran tinha uma performance quase tão boa quanto a dos Assemblers, em termos de tempos de processamento, o que era muito importante numa época em que esse era um recurso escasso e consequentemente, caro.

Em fevereiro de 1957 o Fortran foi apresentado formalmente, durante a “Western Joint Computer Conference”, em Los Angeles. Para a ocasião, a IBM pediu a seus clientes que apresentassem casos reais, como o cálculo do fluxo de ar para o projeto de asas de aviões, e promoveu um benchmarking, apresentando esses problemas a programadores Assembler e Fortran. 

Os resultados foram impressionantes: em média, os programas em Fortran foram construídos cinco vezes mais rapidamente que aquelas em Assembler, sem perda significativa de performance em termos de tempo de processamento.

Ao encerrar-se o evento, os profissionais da área sabiam que uma nova era se iniciava – e essa era ainda não terminou: até hoje o Fortran é usado em aplicações de natureza científica. 

Sua versão mais recente  é o Fortran 2018.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

FUEL PUMPS: PARECE QUE CERTAS COISAS SEMPRE EXISTIRAM...

Frequentemente temos a sensação de que determinadas coisas sempre existiram; elas estão tão presentes em nossa vida cotidiana que nos esquecemos de que alguém desenvolveu tecnologia que veio a tornar essas coisas fontes de comodidade para nossa vida diária.
Na segunda metade do século XIX, o principal derivado do petróleo era o querosene, que era utilizado principalmente como combustível para iluminação, aquecimento e cozinha. A gasolina era outro derivado do petróleo, utilizado para os mesmos fins, mas, também e principalmente, para limpeza em ambientes fabris.
Quando uma pessoa desejava comprar querosene ou gasolina, ia a um armazém, levando uma lata ou balde. Ali,  o comerciante retirava o produto de um barril e o passava para o recipiente trazido pelo comprador; era um trabalho pesado, sujo e perigoso; com frequência parte do material era desperdiçado.
Um empreendedor americano, Sylvanus Freelove  Bowser,  desenvolveu pesquisas tentando resolver esse problema, tendo em 1885 terminado a construção de uma bomba, que vendeu a Jake Gumper , um comerciante de Fort Wayne,  Indiana. Nascia a bomba de gasolina, antes mesmo de que nascesse o automóvel.  Rapidamente outros comerciantes procurarem Bowser, que em 1887 patenteou seu invento e criou a S.F. Bowser Company; modelos mais aperfeiçoados começaram a ser vendidas às primeiras oficinas de automóveis em 1893.   
Até esse momento, essas oficinas vendiam gasolina passando-a de um barril de aço para um latão com capacidade para cinco galões (cerca de 20 litros). A seguir, a gasolina era passada do latão para o tanque dos automóveis com o auxilio de um funil, que tinha um filtro de tecido para evitar que impurezas fossem para o tanque do carro – aqui também um trabalho pesado, sujo, perigoso, gerador de desperdícios.
Em 1905, Bowser chegou à bomba que começou a se parecer com as atuais: um tanque metálico instalado em um gabinete de madeira, com  uma bomba manual que permitia fixar a quantidade de combustível a ser fornecida e outra  novidade: uma mangueira que poderia ser levada à boca do tanque do veículo.  Bowser chamou esse dispositivo  “Bowser Self-Measuring Gasoline Storage Pump”. O pioneirismo de Bowser com relação à mangueira é contestado por alguns autores, que afirmam ter John J. Tokheim, de Cedar Rapids, Iowa, adaptado uma mangueira a um tipo rudimentar de bomba em 1903. 
O fato é que a bomba de Bowser fez um sucesso tão grande (a indústria de automóveis também vivia um boom na época), que a palavra “bowser” acabou se tornando um sinônimo de bomba de gasolina, ainda sendo  usada nesse sentido em alguns países, especialemte na Austrália e Nova Zelândia. Em muitos lugares são chamados bowsers caminhões que abastecem aviões nos aeroportos  e na Inglaterra recebem  esse nome veículos ou recipientes móveis que carregam qualquer tipo de líquido entregue a granel ao usuário final, como por exemplo caminhões tanque que distribuem água.
Bowser morreu em 1938. Mais tarde, o controle de sua empresa, que fabricava outros produtos, como sistemas para purificação de óleo, foi adquirido pela Keene Corporation, que acabou quebrando em 1993, principalmente por ter sofrido um grande número de ações judiciais relativas à utilização de asbestos, um material cancerígeno que era utilizado em seus produtos.