Em seu célebre artigo intitulado As We May Think, Vannevar Bush propôs o conceito de e-reader, o Memex (memory + index); em 1968, Alan Kay previu que, na década de 90, surgiria uma espécie de computador portátil, um livro dinâmico, um aparelho que teria grande capacidade de memória interna e possuiria pequenos cartuchos removíveis que dariam acesso a uma rica biblioteca eletrônica. Essas ideias tornaram-se realidade em 1998, quando foi lançado nos Estados Unidos, pela Nuvomedia, o Rocket-ebook.
Mas o conceito realmente decolou quando a Amazon lançou, em Novembro de 2007, seu Kindle. A repercussão foi enorme, o mercado livreiro entrou em pânico: parecia ter surgido um produto que mataria uma tecnologia de 500 anos, o livro em papel.
Mas o livro tradicional continua, firme e forte e os e-readers ainda não o fazem . Além disso, os e-readers não fazem parte do cotidiano da maioria das pessoas: segundo a consultoria Euromonitor, 131 milhões de aparelhos foram vendidos no mundo desde 2007, e após um pico em 2011, as vendas só caíram (ver gráfico); as projeções também não são brilhantes.
No Brasil, a base instalada é muito pequena: desde 2010 apenas 76,2 mil e-readers foram vendidos aqui, embora muitos usuários comprem o equipamento no exterior. O ano em que se comprou mais desses aparelhos por aqui foi 2015, com 16,2 mil unidades – em cinco anos, porém, menos de 10 mil dispositivos serão comprados por brasileiros.
Além disso, segundo dados da Câmara Brasileira do Livro (CBL), os e-books – o conteúdo que motiva a compra desses aparelhos – representaram apenas 1,09% da receita das editoras no País em 2016. Ao todo, 2,75 milhões de e-books foram vendidos aqui em 2016, contra 39,4 milhões de livros de papel.
As causas desse desempenho ruim são diversas, principalmente o fato de os leitores vorazes preferirem os livros na forma tradicional, os preços do hardware e do conteúdo ainda serem altos (apesar de existirem inúmeros livros gratuitos), mas principalmente, a falta do hábito de leitura: nos Estados Unidos, a média de leitura é de 12 livros por ano; no Brasil apenas 4,96 livros.
Outro fator é o crescimento dos smartphones, não só em quantidade, mas também em tamanho de tela - esses aparelhos permitem a leitura de livros, embora com menos conforto do que com um e-reader.
Segundo texto de Bruno Capelas e Andre Klojda publicado no Link Estadão, parece existirem dois caminhos para o e-reader: ou segue vivo, como um produto de nicho, rentável o suficiente para se manter vivo ou ou será “morto” pelo smartphone.
Quanto ao livro em papel, em entrevista ao Estado em 2010, o filósofo Umberto Eco disse que o mesmo será um objeto eterno, como a colher, o machado e a tesoura. Na época, foi bastante criticado, mas hoje, sua visão parece próxima da verdade. Por ironia do destino, quem deveria “matar” o livro de papel pode, na verdade, morrer primeiro que ele...