A invenção do telegrafo por Samuel Morse em 1843 levou à ideia de serem lançados cabos atravessando os oceanos para utilizar a nova tecnologia. No ano seguinte foram colocados no fundo do mar 4.630 km de cabo, ligando a Irlanda aos Estados Unidos - no ponto final do cabo, as mensagens seriam lançadas na rede telegráfica terrestre. Problemas impediram que essa ligação tivesse sucesso, após diversas tentativas - apenas em 1866 a ligação tornou-se confiável.
O serviço foi se expandindo e na atualidade os cabos modernos têm geralmente 69 milímetros de diâmetro e pesam cerca de 10 quilos por metro, embora cabos mais finos e leves sejam usados para trechos em águas profundas. Em 2010, os cabos submarinos já ligavam todos os continentes, exceto a Antartida - o mapa acima nos dá uma visão do sistema.
Mais um cabo entrou em operação no mês passado: o Marea, que com 6,6 mil km de extensão é a mais potente conexão transoceânica já instalada: liga a cidade de Virginia Beach, nos Estados Unidos, a Bilbao, na Espanha, com capacidade para transferir 160 terabits por segundo, o equivalente a mais de 5 mil filmes de alta resolução. Trata-se de propriedade conjunta do Facebook e da Microsoft.
Esse tipo de rede de fibras ultrarrápidas é necessário para dar conta do imenso volume de dados que circula atualmente pelo mundo. Em 2016, segundo a empresa de pesquisas de mercado TeleGeography, o tráfego chegou a 3.544 terabits por segundo, o dobro do volume registrado em 2014.
Perto da costa, o cabo foi enterrado para evitar choques com peixes e embarcações. Em alto mar, repousa sobre o solo do oceano. Essa verdadeira obra prima da tecnologia e engenharia foi finalizada em menos de dois anos. A expectativa é de que o Marea esteja totalmente operacional logo no início de 2018.
A demanda por largura de banda internacional cresce a um ritmo de 45% ao ano. Boa parte do tráfego atualmente ainda é gerada pelos usuários de internet, mas é grande e crescente a participação das gigantes de internet e computação em nuvem, que precisam manter sincronizados os diversos centros de processamento de dados que têm espalhados pelo mundo.
Essas empresas costumavam alugar toda a largura de banda de que necessitavam junto a operadoras de telecomunicações. Agora, porém, precisam de tanta capacidade de rede que faz mais sentido instalar cabos próprios, em particular nos casos em que a distância entre os centros de processamento é grande. A associação setorial Submarine Telecoms Forum calcula que em 2016 foram instalados 100 mil km de cabos submarinos. Em 2015 tinham sido apenas 16 mil km. Segundo projeções da TeleGeography, entre 2016 e 2018 esses projetos de cabeamento devem consumir um total de US$ 9,2 bilhões, cinco vezes mais que o valor investido nos três anos anteriores.
Para as empresas, ter uma rede submarina de fibra óptica exclusiva oferece algumas vantagens, entre as quais se destacam a maior disponibilidade de largura de banda, os custos mais baixos e um delay (latência), menor. O acesso a diversos cabos, distribuídos por rotas diferentes, também garante segurança em casos de emergência. Se um cabo se rompe, em virtude da ação de redes de pesca, submarinos ou terremotos o tráfego pode ser remanejado para outra rota.
Ainda mais importante que isso, porém, é o fato de que, com sua própria rede de cabos, as empresas têm maior controle sobre a administração do tráfego de dados e a atualização de equipamentos. Algumas pessoas receiam que, com a propriedade das redes de fibra óptica pelas quais são transportados os dados dos consumidores, as gigantes de tecnologia tenham ainda mais poder do que já possuem. É como se a Amazon fosse dona das rodovias e dos caminhões utilizados nas entregas das encomendas de seus clientes, comparam.
Os cidadãos comuns podem esperar para ver - as grandes empresas precisam apostar...