segunda-feira, 16 de março de 2020

LAVAR AS MÃOS PODE NÃO TER MUITA COISA A VER COM TECNOLOGIA, MAS...

O jornal O Estado de S. Paulo publicou uma interessante matéria da jornalista Roberta Jansen, mostrando como o hábito de lavar as mãos revolucionou a medicina.

Segundo a matéria, até o século XIX, a  ideia dominante era que a lavagem das mãos tirava a proteção da pele; o primeiro médico a perceber que a lavagem das mãos poderia ter um impacto respeitável nas taxas de letalidade foi o húngaro Ignaz Semmelweis (1818-1865) que em 1847 trabalhava no Hospital Geral de Viena. 

O hospital tinha duas clínicas para a realização de partos: uma que era usada no ensino de jovens médicos e outra para o treinamento de parteiras.

A morte de mulheres pela chamada febre puerperal, pós-parto, era muito comum. Mas o médico começou a observar uma diferença de mortalidade muito grande entre as parturientes atendidas por estudantes de medicina e as que eram cuidadas por parteiras. Entre essas últimas, a taxa de letalidade era de menos de 4% contra porcentuais que chegavam a 16% dentre as atendidas pelos estudantes.

Nesta mesma época, um médico amigo de Semmelweis morreu depois de ter sido ferido acidentalmente pelo bisturi de um dos estudantes da clínica durante uma necropsia. Ao fazer a autopsia do amigo, Semmelweis notou que ele morrera de uma enfermidade muito parecida à que acometia as parturientes.

A teoria dos germes não havia ainda sido lançada. Semmelweis, tendo excluído todas as outras diferenças entre as duas clínicas, concluiu que os médicos e estudantes que manipulavam cadáveres estariam levando para as novas mães “partículas cadavéricas” nas mãos. Isso explicava por que as parteiras tinham porcentuais mais baixos: elas não participavam das autópsias.

Diante disso, o médico estabeleceu uma nova política no hospital: todos os médicos e estudantes deveriam lavar as mãos  antes de atenderem as parturientes. O resultado foi imediato e espantoso. Em apenas um mês, o porcentual de mortes caiu para menos de 1%.

Semmelweis chegou a publicar um livro, “Etiologia, Conceito e Profilaxia da Febre Puerperal”. Suas descobertas, porém, não foram bem recebidas entre os médicos. Pelo contrário, muitos zombavam dele. Suas ideias eram o oposto do preconizado e foram rejeitadas pela comunidade científica. Ele morreu aos 47 anos depois de ter tido um colapso nervoso e 14 dias depois de ser internado em um hospital psiquiátrico, onde foi espancado pelos guardas. 

Foram necessários ainda alguns anos até que o francês Louis Pasteur (foto ao lado) confirmasse a teoria dos germes e o britânico Joseph Lister começasse a colocá-la em prática com medidas de higiene durante procedimentos cirúrgicos.

E ainda hoje vemos médicos e estudantes de medicina desfilando pelas ruas usando jalecos - como diz um cartaz em um restaurante de São Paulo que proíbe a entrada de pessoas vestindo jalecos: "Jaleco não é sinal de status - é sinal de falta de educação e higiene"...