Com o título acima, o “Estadão” publicou recentemente texto dando conta de que o mercado de
tecnologia da informação (TI) continua
em plena expansão e atraindo recursos: em 2012, o investimento no setor deve
subir 12% na América Latina, segundo estudo do IDC, uma instituição de pesquisa
na área; isso significa uma movimentação de mais de US$ 97 bilhões. Com uma
vantagem adicional - os benefícios desse movimento são transversais, pois
afetam praticamente todos os segmentos empresariais.
Um exemplo marcante de como essa influência ocorre está no ciclo
virtuoso criado pelo fenômeno Cloud Computing (computação em nuvem), onde é possível armazenar e compartilhar dados
de forma remota, ciclo esse que transformou as relações de consumo da
informática e está estimulando o crescimento de empresas menores e, mais do que
isso, abrindo espaço para novos negócios antes totalmente inviáveis.
Até pouco tempo atrás, a capacidade da TI de uma empresa era ditada pelo
poder do equipamento que ela tinha em suas instalações. Aumentar a capacidade
significava comprar servidores e sistemas de storage mais poderosos, e cada
compra precisava contemplar uma margem de crescimento - já antevendo um aumento
da demanda, pagava-se antecipadamente por ela.
Esse modelo excluía algo que atualmente é fundamental: a demanda é
flutuante e pode subir ou descer muito em um curto espaço de tempo,
principalmente no caso de setores que lidam com o grande público. O sistema de
uma empresa varejista, por exemplo, pode ter seu número de acessos multiplicado
repentinamente caso a empresa anuncie uma promoção relâmpago, voltando aos seus
níveis normais logo em seguida. Nessa
situação, ou a empresa superdimensionava seu parque de TI para atender
adequadamente ou atendia mal, com quedas de sistemas, tempos de resposta muito
altos etc. – qualquer alternativa não era boa para os negócios.
Além disso, o acesso das pessoas à internet, a presença massiva nas
redes sociais e a popularização dos dispositivos móveis (tablets, smartphones)
está fazendo com que a demanda por procesamento e espaço para armazenagem de dados aumente
muito. Tanta gente acessando dados de diversos lugares de forma ininterrupta e
os sincronizando entre diferentes dispositivos gera uma demanda imprevisível.
Ao mesmo tempo em que ajudou a estimular esses fenômenos, a computação
em nuvem surgiu como resposta para essa nova realidade. Os usuários de Cloud Computing
não precisam mais comprar grandes servidores nem aumentar suas capacidades de
armazenamento de forma radical - pagam pelo uso mensal, assim como fazem com luz,
água ou gás.
Apesar de ser algo novo, Cloud Computing é a materialização de um sonho
antigo das empresas de tecnologia. Na década de 1960, o projeto Multics
(Multiplexed Information and Computing Service) era liderado pelo MIT em
conjunto com o Bell Labs e a GE, organizações que detinham alguns dos
principais centros privados de pesquisa do mundo. Seu objetivo era criar alta
acessibilidade, transformando a computação em facility: assim como serviços
telefônicos e elétricos, seria possível ter acesso a espaços e recursos computacionais
flexíveis.
O que há 50 anos parecia revolucionário - e até hoje nos surpreende - é o
propulsor de um ciclo de crescimento. À medida em que migrar para a nuvem se
mostrou interessante para as grandes empresas, os data centers (que compõem a
nuvem) começaram a crescer e a oferecer serviços menos caros – há ganhos de
escala, pela otimização do uso dos recursos e por isso Cloud Computing vem se
tornando acessível para empresas de todos os portes.
Mesmo sendo um movimento positivo, diversas empresas têm se visto em uma
posição não muito confortável: sabem das oportunidades de negócio que a nuvem
traz, mas veem na mudança uma migração complexa. Elas podem ter razão. Chegar
até a nuvem não significa fazer uma mera cópia e transposição dos sistemas.
Trata-se de repensar toda a sua arquitetura e lógica, o que pode ou não
acarretar mudanças radicais no ambiente da empresa.
Para uma ilustração do que isso
significa, basta pensar, por exemplo, que na estrutura fixa a ordem é evitar a redundância
de dados para economizar espaço de armazenagem de dados e processamento. Na nuvem, ao contrário, a
redundância pode ser bem vinda, já que
pode resultar em um ganho de agilidade e velocidade de processamento, pois a
disponibilidade de espaço para armazenagem não é mais um limitador. São
questões operacionais, mas que influenciam diretamente na eficiência da empresa
e na arquitetura das aplicações que rodarão na nuvem.
A migração realmente exige cuidados, mas é possível fazer essa transição
de forma segura. Migrar para a nuvem implica em uma mudança de paradigma, e
essa mudança já está acontecendo independentemente da vontade das empresas. O
conjunto de novas possibilidades que essa nova tendência abre para o mundo dos
negócios é proporcional à amplitude da transformação por que passa a tecnologia
da informação.