domingo, 17 de fevereiro de 2019

MANSUP: TECNOLOGIA BÉLICA BRASILEIRA VOLTA A LUTAR POR MERCADOS


 

Nas últimas décadas do século passado, a indústria bélica brasileira ocupava lugar de destaque no mercado de materialo bélico, especialmente através de empresas como Embraer, Avibrás e Engesa. 

Crises econômicas e problemas de gestão reduziram muito essa indústria no Brasil. Agora, surgem sinais de reação: a Marinha do Brasil lançou pela primeira vez o míssil nacional antinavio Mansup, de longo alcance. Isso aconteceu há cerca de um mês, a 300 km do litoral sul do Rio de Janeiro; a foto ao lado, mostra o momento do disparo do míssil.

Lançado pela corveta Barroso, o míssil, que mede 5,7 metros e pesa 860 quilos, voou a 1000 km/hora bem próximo da superfície, acompanhando o movimento da água do mar; acertou o alvo, o casco do G-27 Marajó, um navio-tanque de 13 mil toneladas, desativado há dois anos. Era só uma referência na operação - não houve explosão. O Mansup do teste levava uma carga de sensores eletrônicos para fazer medições de telemetria. Em um ataque real, estaria recheado com até 180 quilos de explosivos de alto rendimento – o suficiente para afundar, por exemplo, uma fragata de 5 mil toneladas.

O Mansup é o primeiro modelo de uma família. A sequência prevê o Mansub, lançado por submarinos submersos a partir do mesmo tubo dos torpedos, e o Manaer, para aviões de combate e helicópteros pesados. O arranjo mais ambicioso, diz um especialista do Centro de Tecnologia da Marinha, é o Mansub. O míssil é acomodado dentro de uma cápsula, ejetada por uma carga de ar comprimido. Quando chega a superfície, um sensor digital reconhece essa condição e faz a ignição do motor. Os quatro novos submarinos diesel-elétricos brasileiros da classe do S-40 Riachuelo – recebido pela Marinha recentemente – e a também a variante nuclear, vão incorporar o sistema.

O Mansup funciona em duas fases: um acelerador, o ‘booster’, dinamiza a etapa do ganho inicial de velocidade por poucos e intensos segundos até que entre em ação o propulsor principal. A navegação e o direcionamento são estabelecidos por meio de uma caixa de guiagem inercial, com radar interno ativo na etapa final da trajetória para afinar a precisão em relação ao objetivo. O míssil não é de cruzeiro, busca um alvo marcado, ou seja, não faz navegação própria até o impacto. 

A Marinha pretende liberar o Mansup para vendas internacionais. O empreendimento, sob a direção de agências oficiais, está sendo executado por quatro empresas do setor privado. A expectativa é de que ao menos dez nações da América do Sul, África, Ásia e Oceania considerem a substituição dos antigos Exocet B1 e B2. O preço comercial do míssil ainda não foi definido.

O domínio do pacote de conhecimento necessário à produção de mísseis antinavio coloca a indústria brasileira de equipamentos de defesa como parte de um clube formado por dez países, como Estados Unidos, Rússia, China, França e Suécia. É aí que o Mansup vai ter de encontrar espaço no mercado. 

O programa de desenvolvimento do míssil começou há dez anos e até agora consumiu R$ 380 milhões. O Mansup é inspirado nos modelos franceses que custam até US$ 2 milhões. 

Coincidentemente, a corveta Barroso (foto ao lado) foi também construída no Brasil, tendo sido lançada ao mar em 2002.