sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

O PATO DONALD FOI À GUERRA

Nestes tempos de atentados, guerras, manifestações, etc., somos submetidos pela mídia a um verdadeiro bombardeio, ficando muito difícil distinguir o que é informação, contra-informação ou simplesmente propaganda.  Alguém disse que em situações como essas, a primeira vítima é a verdade...

Há algum tempo revi com grande prazer uma peça de propaganda produzida para o cinema – uma aplicação pioneira da tecnologia à propaganda em tempos de guerra. Propaganda assumida, mas de grande qualidade; não é porque se trata de propaganda que deve automaticamente ser qualificada como lixo, ainda mais quando se trata de propaganda de uma causa com a qual nos identificamos: a guerra às ditaduras, e no caso, à ditadura nazi-fascista.

Trata-se de um desenho animado produzido pelos estúdios Disney e lançado em 1943, ano em que ganhou o Oscar na sua categoria.   Originalmente chamado "Donald Duck in Nutziland" (um trocadilho intraduzível, fazendo menção à loucura nazista), foi rebatizado "Der Fuehrer's Face" ou “A cara do Fuehrer”, título da música tema.  

Donald foi o personagem de outros desenhos animados de propaganda durante a 2a. Guerra Mundial, mas este é meu predileto: tem cenas geniais, como as que mostram as dificuldades da vida diária na Alemanha em guerra, com Donald tentando fazer café amarrando um grão do produto num barbante e mergulhando-o em água quente, tentando comer um pão extremamente duro e borrifando aroma de bacon e ovos na garganta. Outras cenas mostram o clima de irrealidade e de loucura do nazismo, com tudo (árvores, casas, nuvens, etc) tomando a forma de suásticas.
  
Porém, a seqüência mais interessante é a que mostra o dia de trabalho do pato numa fábrica de munições: Donald tem que montar as bombas que passam numa esteira rolante, ao mesmo tempo em que ergue o braço numa saudação nazista dirigida à figura de Hitler pintada em cada uma delas, chegando a um ponto em que não consegue mais coordenar seus movimentos ou sequer parar de se mexer, numa feliz alusão ao processo de robotização a que eram submetidos os que trabalhavam para os nazistas.


Vinicius de Morais, que durante muito tempo foi crítico de cinema, escreveu um artigo elogiando o desenho, publicado no jornal carioca “A Manhã” de 5 de maio de 1943. Curiosamente, os estúdios Disney atualmente evitam mencionar ou de alguma forma exibir essa produção, talvez tentando ser “politicamente corretos”.

Finalmente, tudo termina bem: Donald estava tendo um pesadelo, e quando acorda está coberto pela sombra da Estátua da Liberdade...  Liberdade que esperamos prevaleça para todos nós.