quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

O Human Brain Project e a Neuromorphic Computing Platform

O Human Brain Project (HBP)  vem sendo desenvolvido no âmbito da União Européia e tem como objetivo central entender como o cérebro humano funciona, de forma a desenvolver soluções na área de saúde e ferramentas tecnológicas que possam auxiliar nessa área.
Um dos produtos desse projeto é a Neuromorphic Computing Platform (NCP), que pode ser apresentada, de forma simplista, como  um supercomputador que imita as sinapses do sistema nervoso central dos seres humanos, podendo, dessa forma,  "pensar", tomar decisões e corrigir seus próprios erros.  
Esse computador é totalmente diferente das máquinas convencionais, que são programadas para executar tarefas específicas, utilizando lógica rígida. O NCP, ao operar como um cérebro humano, pode ir mudando o curso de suas ações de acordo com mudanças no ambiente externo e mesmo “corrigir” eventuais erros que tenha cometido.
Recentemente,  o Prof. José Pastore, da FEA/USP, uma das maiores autoridades em temas ligados ao trabalho, publicou artigo discutindo possíveis impactos da NCP no mundo do trabalho.
Segundo o Prof. Pastore,  acopladas aos robôs industriais, as NCP darão ordens e contraordens, permitindo fazer ajustes sem a necessidade de parar o processo produtivo e sem a necessidade da intervenção de chefes e supervisores. Ligadas aos drones, elas poderão orientar  a logística de entrega de mercadorias. No trânsito, viabilizarão o uso de veículos sem motoristas (dos quais já temos tratado neste blog), reduzindo congestionamentos e acidentes, pois têm capacidade para antecipar e evitar riscos. As possibilidades são imensas, e como sempre gerarão ameaças e oportunidades.
Não é prematuro falar em aplicações, porque essas máquinas entrarão em produção comercial em 2015. Completado o trabalho dos cientistas que estão desenvolvendo a tecnologia NCP,  países desenvolvidos já preparam os técnicos para lidar com elas. Só na Universidade de Stanford, 760 estudantes estão sendo capacitados para atuar na área.
Segundo o Prof. Pastore, em menos de dez anos, os computadores neuromórficos (como também estão sendo chamadas as NCP), farão parte da rotina da produção do Primeiro Mundo. E como a economia está globalizada, o Brasil terá de entrar nessa onda. Para tanto, não basta comprar os computadores - será preciso ter gente preparada para trabalhar com eles e, com os seus desdobramentos,  o que depende em grande parte de uma boa educação.
Para essas pessoas participarem do processo como adultos daqui a dez anos, é preciso que as crianças de agora comecem a ser preparadas, o que infelizmente parece que não vai acontecer -  no teste  PISA as nossas crianças estão na “rabeira” mundial: em Matemática, 67% ficam no nível mais baixo daquela prova, enquanto 80% dos estudantes dos países concorrentes do Brasil ficam no nível mais alto. O crônico descaso no campo da educação perdura – o Prof. Pastore declara-se   espantado ao saber que os investimentos do Ministério da Educação diminuíram 13% em 2013, sem falar na baixíssima eficiência dos recursos investidos.
Sem uma boa educação, não temos a menor chance de participar dos benefícios trazidos pelas novas tecnologias. E, sem isso, será difícil sobreviver e vencer num mundo em que a concorrência se acirra cada vez mais.
O Prof. Pastore ainda nos deixa “mais para baixo”, pois diz que muitos ainda alimentam a ideia de combater as inovações. São os adeptos do ludismo (movimento que ia contra a mecanização do trabalho proporcionado pelo advento da Revolução Industrial) do século XXI. Nossa Constituição, em seu artigo 7º, inciso XVII, trata da "proteção em face da automação, na forma da lei". O Prof. Pastore não duvida  que nas próximas eleições algum demagogo, em lugar de apresentar um programa de melhoria efetiva da qualidade do nosso ensino, venha a propor uma lei para banir robôs, drones e computadores  da economia nacional. Será o fim do nosso futuro - precisamos ficar atentos e votar bem.