segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Aspirina - um produto da tecnologia


Serve para dores de cabeça, nas costas, no estômago. Febre e dores musculares. Dizem que reduz  em 20% a probabilidade de um segundo ataque cardíaco e que até mesmo pode prevenir algumas  formas de câncer. Nada mau para um comprimido que nasceu apenas com a missão de combater as dores do reumatismo e que, quase 120 anos depois ainda é um sucesso.
A Aspirina tem muito a ver com tecnologia:   foi o primeiro fármaco a ser sintetizado na história da farmácia e não recolhido na sua forma final da natureza. Foi a primeira criação da indústria farmacêutica.

Sua história teve início quando o francês Charles Frédéric Gerhardt e o alemão Karl Kraut começaram a estudar   o princípio ativo da planta Spiraea ulmari. Mas foi em 1897 que Felix Hoffman, um jovem farmacêutico da companhia alemã Bayer, que procurava um jeito de ajudar o pai a combater o mal-estar crônico provocado pelo reumatismo, com a ajuda do professor Heinrich Dreser  sintetizou o ácido acetilsalicílico, criando a fórmula de uma droga capaz de aliviar a dor sem muitos efeitos colaterais. No ano seguinte a Bayer testou a nova droga com 50 pacientes, provando ser a mesma extremamente eficaz; mandou o produto para testes médicos e os resultados foram impressionantes. Além disso, a Bayer enviou um livro de 200 páginas sobre o medicamento para 30.000 médicos, mostrando as vantagens da nova droga - foi a primeira grande mala-direta da história.
Em 1899, o ácido acetilsalicílico foi lançado comercialmente na Alemanha sob a marca  ASPIRIN; era inicialmente entregue às farmácias na forma de pó, em frascos de 250 gramas; estas o revendiam  em embalagens de papel de uma  grama.

O nome ASPIRIN vem dos compostos usados na fabricação do remédio: “A” de Acetil, “SPIR” da planta Spiraea ulmaria (de onde era retirada a Salicin) e “IN” um sufixo comum para medicamentos. Porém, uma lenda conta que o nome vem do santo Aspirinus, que era o bispo de Nápoles e padroeiro dos que sofriam de dores de cabeça.   
O produto fez sucesso rapidamente, mas tinha uma desvantagem - era pouco solúvel em água. Mais uma inovação da Bayer: para resolver o problema, o produto passou a ser comercializado, em 1901, na forma de comprimidos, sendo,   um dos primeiros medicamentos do mundo a estar disponível em uma dosagem padronizada. A formulação em comprimido tinha três vantagens principais: assegurar que cada comprimido tivesse uma dosagem exata do ingrediente ativo,  acabar com a falsificação do produto,  e reduzir os custos de produção. Nesta época, o novo medicamento tinha sido objeto de mais de 160 artigos científicos, todos ressaltando seus efeitos benéficos, que iam muito além do tratamento do reumatismo. Era considerado um poderoso remédio que tratava uma gama maior de outras condições, como por exemplo, dores, nevralgia, gripe, indisposição alcoólica, artrite, amidalite e até febre e diabetes.  

Os primeiros registros de venda da Aspirina no Brasil datam de 1901. O sucesso do novo medicamento foi tanto, que já em 1906, ano em que a marca foi registrada internacionalmente, a imprensa da época chamava a Aspirina de “The Wonder drug” (A droga maravilhosa). A propaganda boca a boca  garantiu fantásticos rendimentos à Bayer. Não só na Alemanha, como nos outros países da Europa e do resto do mundo, ela dominava o mercado. Há até quem diga que foi ela a verdadeira impulsionadora (ou criadora) da indústria farmacêutica. Produtos derivados foram sendo lançados, como a  CafiAspirina, indicada para a enxaqueca, pois combinava a ação analgésica e anti-inflamatória do ácido acetilsalicílico com um agente potencializador (cafeína).
A Bayer perdeu a posse da marca Aspirina em muitos países após a Primeira Guerra Mundial, como reparação de guerra aos países aliados. Outros problemas, como falsificações, afetavam a Bayer, mas a percepção de que o remédio ajudava a prevenir enfartes deram nova vida ao produto, no início da década de 1950 – em 1952, o   Livro Guinness dos Recordes apontava a Aspirina como o analgésico mais consumido do mundo. Na década de 1960, a Aspirina foi ameaçada pelos medicamentos à base de acetaminofeno e suas vendas caíram seriamente - mesmo assim, em 1969 as pílulas brancas chegavam à Lua, a bordo da nave Apollo 11, prontas para livrar os astronautas norte-americanos de eventuais dores de cabeça.  

Hoje, Aspirina é marca registrada da Bayer AG na Alemanha e em mais de 60 países. Calcula-se que o mundo consome atualmente 216 milhões de comprimidos   por dia (uma média de 2.500 unidades por segundo), o que representa para a Bayer um faturamento de €750 milhões por ano. De todas as drogas vendidas legalmente e sem receita, calcula-se que a Aspirina responda por 35.8%, o que faz dela um ícone, uma espécie de Coca-Cola das farmácias. Para a revista americana Newsweek há 5 inventos do século XX sem os quais não seria possível viver: automóvel, lâmpada, telefone, TV e... Aspirina.
Curiosamente, a Argentina consome um quarto de todas as Aspirinas tomadas no mundo - os argentinos  são os que mais utilizam o medicamento: cada habitante toma uma média de 80 comprimidos por ano! No Brasil, são mais de 92 milhões de comprimidos consumidos todos os anos. Nos países onde Aspirina não é protegida por marca registrada, como nos Estados Unidos, o nome pode ser utilizado genericamente para todos os produtos que contenham como substância ativa o acido acetilsalicílico.