domingo, 28 de julho de 2013

O COMANDANTE QUANDT: UM TÉCNICO E PATRIOTA

O comandante Quandt
Nos anos 1990 vendi uma linha telefônica fixa em Jundiaí por US$ 3.000 – quem tentava adquirir uma linha nova diretamente da operadora esperava anos até recebê-la; assim, a alternativa era comprar de particulares, que praticam preços como esse. Muitos não se lembram, mas alguns anos antes disso, era preciso aguardar algumas horas para que a telefonista completasse uma chamada interurbana, telefonemas internacionais eram temas de ficção científica.  A CICA, instalada em Jundiaí falava com sua fábrica de Monte Alto, há cerca de 300 km de distância, via rádio – por telefone era impossível.
Tudo isso se devia ao fato de, até o início da década de 1970, ser o setor de telecomunicações um caos total: havia centenas de operadoras - algumas municipais, outras privadas -, que normalmente cobriam só uma cidade, e não eram interligadas. A criação da Telebrás pelo governo federal foi uma resposta a essa situação. As empresas foram agrupadas em operadoras estaduais (TELESP, TELERJ etc.), coordenadas pela Telebrás, que funcionaria como uma holding e conectadas pela rede da Embratel, que havia sido fundada em 1965.
O Sistema Telebrás deu bons resultados por pouco mais de uma década, e acabou sendo sucateado, resultado da administração que passou a ser feita por indicados através de critérios políticos e não técnicos e pela drenagem de recursos financeiros feita pelo governo, que tirava dinheiro da empresa para gastar, quase sempre mal, em outras áreas.
Após anos de decadência, o sistema foi privatizado em 1998; as deficiências da telefonia eram imensas. O preço das linhas no mercado paralelo chegava a US$ 5 mil e as pessoas voltaram a ficar anos à espera se quisessem contratar uma linha diretamente da operadora; a conexão entre computadores era cara, lenta e sujeita a quedas constantes.
A privatização sem dúvida melhorou o cenário, mas hoje as telecomunicações brasileiras não passam por seu melhor momento. As operadoras são líderes de reclamações nos órgãos de defesa do consumidor, os custos são altos. A expansão do celular apresenta forte desaceleração: foram adicionados somente 215 mil novos usuários em junho de 2013, contra 1,764 milhão em dezembro de 2012, embora parte dessa desaceleração deva ter origem na crise em que o país está mergulhando.
Além disso, a velocidade da banda larga brasileira é muito baixa, fica ao redor de 2,3 megabits por segundo (mbps), ante 3,1 mbps no resto do mundo. Ficamos atrás até de outros latino-americanos, como México, Chile e Colômbia.
Diante desses resultados, que refletem a ausência de uma política forte de telecomunicações, vale a pena relembrar a figura e a trajetória do capitão de mar e guerra Euclides Quandt de Oliveira, que morreu na madrugada do dia 19, aos 93 anos, em Petrópolis.
Desde muito cedo envolvido profissionalmente com telecomunicações,  foi presidente do Conselho Nacional de Telecomunicações (Contel), precursor do Ministério das Comunicações, de 1965 a 1967. Em 1972, assumiu a presidência da recém-criada Telebrás. Comandou a empresa até 1974, quando foi nomeado ministro das Comunicações, e ficou à frente desse ministério até 1979.
Quandt de Oliveira liderou a migração das telecomunicações brasileiras para o sistema único e nacional. O jornalista Ethevaldo Siqueira destacou sua importância num texto publicado no site Telequest: "Exemplo de militar digno, patriota e competente, o comandante Quandt - como todos o chamavam - é um dos brasileiros que merecem meu maior respeito. Em plena ditadura, impediu que grandes profissionais das telecomunicações fossem punidos por suas convicções políticas".
Apesar de ter sido o primeiro presidente da Telebrás, Quandt de Oliveira criticou a volta da estatal em 2010: "A Telebrás não está sendo recriada para servir à sociedade brasileira. Sua reativação tem o claro objetivo de atender a comparsas políticos. Isso nos conduzirá, inevitavelmente, à degradação dos serviços".
Acertou na mosca. Vale ir ao dicionário para uma checada no significado preciso da palavra “comparsa”...