sábado, 27 de julho de 2013

FACEBOOK: AMEAÇA À PRIVACIDADE, MESMO SEM POSTARMOS NADA

Dependendo de como forem utilizadas, tecnologias como Big Data e Computer Social Science (CSS) podem impactar o ambiente empresarial e nossa vida pessoal de forma positiva ou negativa. No que se refere à vida pessoal, a perda da privacidade é um dos grandes riscos.

Pesquisadores da University of Cambridge e da Microsoft publicaram recentemente o documento “Private traits and attributes are predictable from digital records of human behavior”, que demonstra como é possível descobrir, com grande probabilidade de acerto, informações privadas simplesmente analisando os "curtir" de uma pessoa no Facebook.

Com pequenos atos, deixamos escapar involuntariamente informações que com frequência consideramos privadas. Captar essas informações e fazer uso delas é uma arte antiga. A novidade é que hoje deixamos um rastro enorme  de dados que Big Data e CSS podem capturar e tratar, gerando informações acerca de nossas opiniões  e características pessoais.

Para isso, não precisamos postar nada: quando clicamos em “curtir”, demonstramos apreciação ou aprovação por alguma coisa, e isso é informado aos nossos amigos, aos donos da página e ao Facebook; nossa escolha torna-se pública. Se “curtirmos” um local, uma ideia, todos sabem gostamos daquele local ou apoiamos aquela ideia.

A pesquisa provou que, apenas analisando os “curtir” de uma
Índice de acertos, numa escala de 0 a 1
pessoa é possível saber, com boa dose de certeza, muito mais sobre ela, como por exemplo, suas preferências sexuais, raça, religião etc., como se pode ver no quadro.

O estudo foi feito após os pesquisadores fazerem com que quase sessenta mil usuários do Facebook nos Estados Unidos respondessem a centenas de perguntas sobre assuntos pessoais, envolvendo temas como consumo de drogas e álcool, religião, política, preferencias sexuais, fidelidade conjugal e vida familiar. Além disso, o QI desses voluntários foi medido e suas características psicológicas foram determinadas. Também foram coletados todos os "curtir" de cada um desses indivíduos.

Depois, os cientistas correlacionaram o conteúdo dos "curtir" às características individuais, construindo tabelas que relacionavam as características pessoais com os termos associados aos "curtir". Descobriram, por exemplo, que a palavra "dança" é mais escolhida por pessoas extrovertidas, "videogames", por introvertidos e que "Harley-Davidson" e “Sephora” estão levemente associadas  a um QI baixo.

Foram feitas associações desse tipo com milhares de palavras para cada uma de dezenas de características. Muitas parecem óbvias, mas outras como batatas fritas estarem associadas a pessoas de QI mais alto, Hillary com pessoas que têm muitos amigos e Yahoo com mulheres heterossexuais não são tão óbvias.

Em 88% dos casos foi possível definir se um homem é homo ou heterossexual, em 95% a raça e em 85% as preferências políticas dos pesquisados.

Esses resultados são mais confiáveis na medida em que a pessoa dá mais “curtir”; evidentemente, os resultados são válidos apenas para os Estados Unidos – para que o fossem para outros países, seria necessário refazer a pesquisa, pois essas associações dependem da cultura de cada país.

É possível encontrar os resultados do estudo na internet. Os pesquisadores criaram o site www.youarewhatyoulike.org, que podemos acessar via Facebook. Usando os dados de nossos “curtir", o site prediz nossas características, com as ressalvas referentes à cultura – mesmo assim, os resultados são interessantes.

Como disse Fernando Reinach, comentando o assunto em sua coluna no Estadão: “Esses resultados demonstram o que muita gente suspeitava. A cada clique, deixamos vazar um pouco de nossa intimidade. Como fazemos isso dezena de vezes por dia, ao longo de muitos anos, basta estatísticos competentes e um computador para juntar todas essas microdicas e, com elas, descobrir informações que guardamos a sete chaves tentando preservar nossa intimidade”.

Vale a pena pensar no assunto...