segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

AS ESTEIRAS NÃO NASCERAM PARA "FITNESS"

Sir William Cubitt (1785-1861) foi um notável engenheiro inglês: construiu canais, portos, aperfeiçoou os moinhos de vento então existentes e em 1807 inventou as esteiras, hoje tão populares em nossas academias.  

Mas ao inventar as esteiras, não estava pensando em um instrumento voltado ao "fitness", mas sim fazer os prisioneiros ingleses  trabalharem duramente. 

Elas eram chamadas "penal treadmills" ou "penal wheels" e não se pareciam com as esteiras atuais, como  a ilustração abaixo nos mostra:


Os prisioneiros condenados a trabalhos forçados tinham que subir  degraus, fazendo girar todo o conjunto; além disso, algumas, como a da prisão de   Vagrants, em Coldbath Fields,  tinham anteparos, para que os prisioneiros não pudessem comunicar-se com os colegas que estivessem ao seu lado. A ilustração à direita mostra ao alto os presos na "penal wheel" e em primeiro plano outros presos exercitando-se no pátio dessa prisão.

A ideia era castigar os prisioneiros, dando-lhes um trabalho sem sentido, e que os esgotasse fisicamente - isso ajustava-se às crenças vitorianas no sentido de que  crimes deviam ser expiados através de trabalho duro - quase sempre eram jornadas de pelo menos 6 horas ao dia, o que equivalia a subir degraus numa extensão de 3 a 4 mil metros, embora em alguns lugares, como na prisão de  Warwick  fossem exigidas 10 horas, equivalente a uma subida de 5 quilômetros. 

Uma publicação de 1875 disse que essas máquinas foram responsáveis por uma grande melhora na disciplina das prisões - elas seriam "um castigo preventivo".  

Alguns funcionários das prisões tiveram a ideia de conectar as "penal treadmills" a moinhos de milho, de forma a que os esforços dos presos tivesse alguma utilidade; Cubitt desenvolveu um projeto nesse sentido, implantado na prisão de Brixton: 24 prisioneiros trabalhando em silêncio, iam se deslocando da esquerda para a direita, dando a cada um o direito de descansar 12 minutos a cada hora de trabalho.

Era um trabalho extremamente árduo; os prisioneiros queimavam facilmente mais de 2  mil calorias/dia, que a comida da prisão não conseguia repor adequadamente, levando muitos à morte. 

O escritor Oscar Wilde (foto ao lado), foi empregado em uma dessas máquinas na prisão de  Pentonville, por ter sido condenado em 1895 a trabalhos forçados por homossexualidade,  que naquela época era crime; deixou a prisão em 1897 e morreu dois anos depois, aos 46 anos de idade.

Apenas em 1902, as "penal treadmills" deixaram de ser utilizadas na Inglaterra.