quarta-feira, 29 de junho de 2011

Máquinas de escrever: duras de matar!

Em sua edição de nº 57, a revista Piauí publicou artigo da jornalista  Dorrit Harazim tratando do fechamento da última fábrica de máquinas de escrever mecânicas  do mundo.
Curiosamente, essa fábrica era localizada na Índia, o que se explica pelo fato de aquele país, apesar do alto índice de crescimento observado nos últimos anos, ainda ter cerca de 400 milhões de pessoas vivendo em regiões onde não há fornecimento regular de  energia elétrica, o que exige que empresas e órgãos públicos dessas áreas utilizem as velhas máquinas.
A invenção da máquina de escrever costuma ser atribuída ao inglês Henry Mills, em 1713. Era destinada a cegos, chegou a ser patenteada, teve o aval da rainha Ana Stuart, mas jamais saiu do papel. A partir daí, a tecnologia  foi dando saltos: surgiram máquinas que só utilizavam caracteres maiúsculos, modelos que lembravam máquinas de costura (com pedal e gabinete), pianolas etc.
Houve até mesmo o projeto de um brasileiro, Francisco João de Azevedo, da Paraíba do Norte (atual João Pessoa), cujo protótipo foi apresentado na Exposição Industrial e Agrícola de Pernambuco em 1861. A invenção lhe teria sido surrupiada pelo tipógrafo americano Christopher Latham Sholes (Azevedo não tinha patente de sua máquina).
O fato é que Sholes aperfeiçoou a engenhoca de forma a que as hastes com os caracteres não se embaralhassem umas às outras, o que era um problema comum às máquinas antigas; fez isso distribuindo os caracteres na forma hoje utilizada, o chamado “teclado qwerty” - nesse layout, os pares de letras utilizados com maior frequência na língua inglesa ficam  separados em metades opostas do teclado, evitando o travamento do mecanismo daquelas máquinas rudimentares. Sholes também desenvolveu o dispositivo que permite o uso de maúsculas e mínusculas.
Em 1873, Sholes vendeu sua patente  à fábrica de armas Remington, à época ociosa devido ao fim da Guerra Civil Americana; a Remington passou a fabricar as máquinas em série, o que fez com que seu custo caisse e elas se popularizassem.
Mas as máquinas de escrever elétricas seguem em produção. Criadas a partir de idéias de Thomas Edison  para uma impressora de mensagens telegráficas, foram lançadas comercialmente em 1902, sem grande sucesso; a idéia foi sendo aperfeiçoada até que em 1925 a Remington lançou o primeiro modelo que fez algum sucesso, apesar de desacordos com parceiros de negócio terem impedido a continuidade do desenvolvimento do produto.
A elétricas só se tornaram realmente populares quando a IBM, em 1935, lançou seu Modelo 01, cujas sucessoras permitiram que esse produto fosse responsável por cerca de 8% das vendas da IBM no final da década de 1950.  As máquinas continuaram a evoluir, incorporando funcionalidades como correção de erros de digitação, troca de fontes e outras, até que o barateamento dos computadores e das impressoras do tipo jato de tinta praticamente condenaram as máquinas de escrever à morte –  em 1990 a IBM  vendeu suas operações na área, embora empresas de menor porte, como a americana Swintec ainda mantenham o produto em linha – esse fabricante produz onze diferente modelos.

A Swintec 2410: US$ 159,00
 Mas, mecânicas ou elétricas, elas são duras de matar: em 2008 a prefeitura de Nova Iorque comprou milhares de máquinas, boa parte das quais destinadas à sua Polícia (que ainda usa papel carbono) – gastou quase um milhão de dólares nessa compra.
Segundo Harazim, nos Estados Unidos a principal clientela das máquinas de escrever é  cativa, literalmente: os 2,3 milhões de americanos presos não podem usar computadores – a Swintec tem uma linha especialemnte voltada para esse público, que somado aos tradicionalistas, certamente fará com que essa tecnologia permaneça em uso ainda durante muito tempo.