terça-feira, 8 de março de 2011

OS LIBERTY SHIPS: AS MULAS DE CARGA DA 2ª GUERRA MUNDIAL

Com o   inicio da 2ª Guerra Mundial em 1939, os Estados Unidos perceberam que cedo ou tarde se envolveriam no conflito, e que deveriam lutar na Europa e no Extremo Oriente, necessitando transportar grandes volumes de suprimentos através do Atlântico e do Pacífico, áreas em que os submarinos alemães, italianos e japoneses estariam muito ativos.
No início de 1941, os Estados Unidos possuiam 1.422 navios mercantes, 92% com mais de 20 anos e com velocidade inferior a 11 nós (cerca de 20 km/hora), o que os tornava alvos muito fáceis para os submarinos – além disso, esse número de navios era insuficiente para atender à estratégia dos americanos.
O tempo era curto, e os americanos desenvolveram uma tecnologia para construir rapidamente os navios de que necessitavam: adaptaram um projeto inglês, definiram métodos que previam uma padronização e simplificação radicais  para acelerar a construção e puseram mãos à obra, denominando esse tipo de navio Liberty.
O primeiro a ser lançado foi foi o   Patrick Henry,    entregue em 30/12/1941; devido às necessidades impostas pela guerra, os esforços de construção eram cada vez mais intensificados, levando a uma sistemática quebra de recordes de velocidade de construção: o   Robert E. Peary teve sua quilha batida  (colocação da primeira peça no local de onde o navio será lançado ao mar)  às 00:00h hs do dia 08/11/1942, sendo lançado ao mar em no dia 12; o acabamento e os testes no mar consumiram mais 3 dias e meio e no dia 15, pouco mais de 8 dias após o batimento da quilha, o Robert E. Peary deixou o estaleiro rumo ao porto onde seria carregado para sua primeira  viagem à Europa - um recorde que provavelmente ainda vai demorar para ser quebrado. 
Para se ter uma ideia do que significa esse prazo, o petroleiro João Cândido, que foi construído no Brasil, teve sua quilha batida em setembro de 2008 e entrou em serviço em maio de 2012, embora, ao que pareça, a demora tenha se devido a conchavos políticos, que fizeram a Petrobras (dona do navio) dar sua construção a um estaleiro não capacitado para faze-lo.
No total 2.710 unidades foram construídas, sendo o tipo de navio 
construído em maior número em toda a história.  Os Liberty carregavam em seus cinco porões 10.865 toneladas de carga, capacidade equivalente a 300 vagões ferroviários, ou 2.840 jipes, ou 440 carros blindados leves, ou 230 milhões de cartuchos de fuzil, mas não raramente seus imediatos encontravam espaços para carga adicional. Apenas a título de comparação, o Emma Maersk,   navio porta containers lançado em 2006, tem capacidade para cerca de 55 mil toneladas de carga.

Apesar de serem navios construídos para fins emergenciais, os  Liberty  incorporaram várias inovações em seu projeto, tais como radares, ecobatímetros, rádios e equipamentos de navegação eficientes. Além disso tinham um grau de conforto muito elevado para a tripulação em relação aos navios da época, como chuveiros, bons camarotes e abrigo para o pessoal em serviço; requeria cerca de 50 marinheiros (o Emma Maersk precisa de 13) e cerca de 30 artilheiros para manejar suas armas antiaéreas e antinavio. Além disso, sua operação era muito simples, exigindo pouco treinamento de seu pessoal.
A construção naval evoluiu muito dos anos 1940 para a atualidade, o que fica claro se fizermos mais algumas comparações entre os Liberty e o Emma Maersk:
·         Comprimento: 135 e 397 metros (o navio mais comprido do mundo é o petroleiro norueguês Knock Nevis, com 458 metros de comprimento).
·         Velocidade: 11 e 25.5 nós
·         Potência: 2.500 e 110.000 hp

Os Liberty foram as mulas de carga da 2ª Guerra Mundial;  dos 2.710 navios construídos 240 foram perdidos  por afundamento, encalhe, incêndio ou acidente. Os remanescentes  foram vendidos ou cedidos a armadores ao redor do mundo, sendo que 3 deles serviram sob bandeira brasileira, dos quais o último a ser desativado foi o Kalu, em 1973.
Alguns   Liberty foram preservados como navios-museu, dentre eles o   John W. Brown mantido   em Baltimore, cuja foto encerra esse texto.