As viaturas Dodge WC na 2ª Guerra
Mundial e no Brasil
Vivaldo José
Breternitz (*)
Durante a
Segunda Guerra Mundial, poucos veículos tiveram um papel tão versátil quanto as
viaturas Dodge Série WC.
Entre 1941 e 1945 a Dodge, então parte
do grupo Chrysler, fabricou mais de 250 mil unidades em dezenas de variantes,
atendendo a funções que iam do transporte de tropas e carga ao uso como
ambulância, veículo de comunicações e plataforma de armamento.
A designação
“WC” seguia o sistema interno da Dodge da época: a letra “W” indicava um
veículo produzido a partir de 1941, enquanto o “C” referia-se à capacidade de
carga de meia tonelada (half-ton). Porém, ao longo da guerra, a família WC
cresceu para incluir versões de três quartos de tonelada (¾ ton) e até de uma
tonelada, mantendo a robustez e a simplicidade como características centrais.
Visualmente,
as WC chamavam atenção pelo seu desenho característico, com cabine fechada ou
aberta, tração 4x4, equipadas com motores de seis cilindros em linha, como o
confiável Dodge T-214 de 92 cavalos. A transmissão manual de quatro marchas garantia
boa performance em terrenos acidentados, fator essencial nos diversos teatros
de operações da guerra.
Entre as
variantes mais famosas estão a WC-51 e a WC-52 — esta última equipada com
guincho frontal —, usadas como veículos de transporte geral. Já a WC-54
tornou-se a ambulância padrão das forças aliadas, reconhecida por seu
compartimento traseiro alongado e capacidade para até quatro macas. Havia
também versões especializadas, como a WC-58 para comunicações, e a WC-55,
armada com canhão anticarro de 37 mm.
A
versatilidade era reforçada por um projeto modular, que permitia à Dodge
produzir diferentes carrocerias sobre a mesma base. Isso facilitava a
manutenção no campo de batalha e reduzia custos de produção.
Além de
servirem às forças dos Estados Unidos, milhares dessas viaturas foram cedidas a
países como Brasil, Reino Unido, União Soviética, França Livre e China.
No caso brasileiro, os primeiros exemplares chegaram ainda durante o conflito, em diferentes variantes, incluindo modelos para transporte, ambulâncias e versões para comunicações – foram muito conhecidos aqui como “Jipão” ou “Pata Choca”.
Durante as
décadas de 1950 e 1960, as Dodge WC se espalharam pelas três forças, cumprindo
papéis diversos. No Exército, eram comuns em unidades de todas as armas, tanto
em operações de campo quanto em missões logísticas. Na Marinha, foram
utilizadas em áreas portuárias e bases navais; na FAB, serviram em tarefas de
apoio.
Um dos pontos
fortes que garantiu a longevidade dessas viaturas foi a facilidade de
manutenção, já mencionada. A mecânica simples, com peças relativamente
intercambiáveis e compatíveis com outros veículos Dodge civis, permitia reparos
rápidos em oficinas militares e até improvisadas no campo. Além disso, a
estrutura robusta suportava adaptações — muitas WC brasileiras receberam
carrocerias modificadas, coberturas metálicas e até conversões para viaturas de
apoio administrativo.
O uso militar
das Dodge WC no Brasil se prolongou muito além de sua vida útil original
prevista. Enquanto nos Estados Unidos essas viaturas foram gradualmente
substituídas nos anos 1950, no Brasil permaneceram em serviço ativo até meados
da década de 1970, quando começaram a ser substituídas por veículos mais
modernos, como os caminhões Mercedes-Benz e viaturas Willys adaptados à nossa
realidade.
Após a desativação, muitas WC foram leiloadas e adquiridas por civis, encontrando novo uso em fazendas, empresas e serviços municipais. Essa reutilização prolongada ajudou a preservar parte da frota e, hoje, alguns exemplares sobrevivem, restaurados por colecionadores e clubes de veículos militares históricos.
A história
das Dodge WC nas Forças Armadas brasileiras é um exemplo de como um projeto
robusto e versátil pode ultrapassar fronteiras e servir de forma eficaz em
contextos muito diferentes de seu cenário original. Para o Brasil, essas
viaturas foram mais que simples meios de transporte: tornaram-se peças-chave de
uma fase importante de modernização e padronização de equipamentos militares no
pós-guerra.
(*) Vivaldo José Breternitz, Doutor em
Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor e consultor – vjnitz@gmail.com.