O Human Brain Project (HBP) vem
sendo desenvolvido no âmbito da União Européia e tem como objetivo central
entender como o cérebro humano funciona, de forma a desenvolver soluções na
área de saúde e ferramentas tecnológicas que possam auxiliar nessa área.
Um dos produtos desse projeto é a Neuromorphic
Computing Platform (NCP), que pode ser apresentada, de forma simplista,
como um supercomputador que imita as sinapses do
sistema nervoso central dos seres humanos, podendo, dessa forma, "pensar", tomar decisões e corrigir
seus próprios erros.
Esse computador é totalmente diferente das máquinas convencionais, que são programadas para
executar tarefas específicas, utilizando lógica rígida. O NCP, ao operar como
um cérebro humano, pode ir mudando o curso de suas ações de acordo com mudanças
no ambiente externo e mesmo “corrigir” eventuais erros que tenha cometido.
Recentemente, o Prof. José
Pastore, da FEA/USP, uma das maiores autoridades em temas ligados ao trabalho,
publicou artigo discutindo possíveis impactos da NCP no mundo do trabalho.
Segundo o Prof. Pastore, acopladas
aos robôs industriais, as NCP darão ordens e contraordens, permitindo fazer
ajustes sem a necessidade de parar o processo produtivo e sem a necessidade da
intervenção de chefes e supervisores. Ligadas aos drones, elas poderão orientar
a logística de entrega de mercadorias.
No trânsito, viabilizarão o uso de veículos sem motoristas (dos quais já temos
tratado neste blog), reduzindo congestionamentos e acidentes, pois têm
capacidade para antecipar e evitar riscos. As possibilidades são imensas, e
como sempre gerarão ameaças e oportunidades.
Não é prematuro falar em aplicações, porque essas máquinas entrarão em
produção comercial em 2015. Completado o trabalho dos cientistas que estão desenvolvendo
a tecnologia NCP, países desenvolvidos
já preparam os técnicos para lidar com elas. Só na Universidade de Stanford,
760 estudantes estão sendo capacitados para atuar na área.
Segundo o Prof. Pastore, em menos de dez anos, os computadores
neuromórficos (como também estão sendo chamadas as NCP), farão parte da rotina
da produção do Primeiro Mundo. E como a economia está globalizada, o Brasil
terá de entrar nessa onda. Para tanto, não basta comprar os computadores - será
preciso ter gente preparada para trabalhar com eles e, com os seus desdobramentos, o que depende em grande parte de uma boa
educação.
Para essas pessoas participarem do processo como adultos daqui a dez
anos, é preciso que as crianças de agora comecem a ser preparadas, o que
infelizmente parece que não vai acontecer - no teste PISA as nossas crianças estão na “rabeira” mundial:
em Matemática, 67% ficam no nível mais baixo daquela prova, enquanto 80% dos
estudantes dos países concorrentes do Brasil ficam no nível mais alto. O
crônico descaso no campo da educação perdura – o Prof. Pastore declara-se espantado ao saber que os investimentos do
Ministério da Educação diminuíram 13% em 2013, sem falar na baixíssima
eficiência dos recursos investidos.
Sem uma boa educação, não temos a menor chance de participar dos
benefícios trazidos pelas novas tecnologias. E, sem isso, será difícil
sobreviver e vencer num mundo em que a concorrência se acirra cada vez mais.
O Prof. Pastore ainda nos deixa “mais para baixo”, pois diz que muitos
ainda alimentam a ideia de combater as inovações. São os adeptos do ludismo (movimento
que ia contra a mecanização do trabalho proporcionado pelo advento da Revolução
Industrial) do século XXI. Nossa Constituição, em seu artigo 7º, inciso XVII, trata
da "proteção em face da automação, na forma da lei". O Prof. Pastore
não duvida que nas próximas eleições
algum demagogo, em lugar de apresentar um programa de melhoria efetiva da
qualidade do nosso ensino, venha a propor uma lei para banir robôs, drones e
computadores da economia nacional. Será o
fim do nosso futuro - precisamos ficar atentos e votar bem.