Houve um tempo em que ao lançar um novo modelo de smartphone os fabricantes procuravam superar os concorrentes na resolução das câmeras, que é medida em quantidade de megapixels. Chegou-se ao ponto de haver um aparelho da linha Nokia Lumia com câmera de 41 MP, lançado em 2013.
O frenesi em torno disso ficou para trás depois que o consumidor aprendeu que quantidade de megapixels não é suficiente para garantir boas fotos, e que uma resolução muito alta pode até atrapalhar, gerando arquivos enormes que tomam toda a memória do aparelho. Agora, os smartphones top de linha estacionaram em resoluções que variam de 16 MP a 21 MP e a busca dos fabricantes pela diferenciação entra em uma nova fase: a adoção de inteligência artificial.
Isso acontece porque a câmera deixou de servir apenas para tirar fotos, mas tornou-se uma ferramenta inteligente com várias funcionalidades. Nessa nova fase, a inteligência artificial está sendo aplicada às câmeras com dois objetivos básicos, melhorar as próprias fotos e transformar a câmera em uma espécie de visor inteligente para a realidade ao redor do usuário, a partir de mecanismos de reconhecimento de imagem e realidade aumentada.
Para o primeiro objetivo, um bom exemplo é o recém-lançado G7 ThinQ, da LG, cujo chipset Snapdragon 845, da Qualcomm, foi treinado com redes neurais para identificar 19 tipos de objetos em cena e, assim, configurar automaticamente os ajustes da câmera para melhorar as fotografias. Paisagens, bebês e comidas são alguns dos tipos identificados. O reconhecimento de imagem é feito offline, ou seja, não precisa de conexão à Internet.
Na Sony, merecem destaque as funcionalidades de auto-foco preditivo e de auto-foco híbrido, presentes nos novos modelos da série Xperia. O auto-foco preditivo consiste na câmera perceber um objeto em movimento e tirar fotos antes mesmo de o usuário apertar o botão. O smartphone analisa e apresenta as melhores fotos para o usuário escolher quais quer salvar. O auto-foco híbrido, por sua vez, rastreia automaticamente o objeto que está sendo fotografado quando ele se move, garantindo que fotos de crianças ou animais sejam tiradas com nitidez.
As maiores inovações, contudo, aparecem na combinação da câmera com o conceito de realidade aumentada. No S9, top de linha da Samsung, a câmera traz uma série de recursos desse tipo. Um deles é um tradutor automático, que converte textos em cena para a língua do usuário em tempo real. Outra funcionalidade é a exibição de pontos de interesse sobre a imagem captada, também em tempo real. Se o usuário apontar a câmera para o céu, ela informa a previsão do tempo; se apontar para o chão, mostra o mapa do local. Há ainda um botão para reconhecimento de imagens, que informa o que a câmera está vendo e oferece links relacionados. Se for um produto à venda na Amazon, permite ir direto para a página de compra. A tecnologia de reconhecimento de imagens do S9 é fornecida pelo Pinterest. O tradutor, os mapas e os pontos de interesse são fruto de uma parceria com o Google.
Motorola, LG e Sony também têm parcerias com o Google, mas para a integração da câmera com o seu recurso de reconhecimento de imagens, o Google Lens.
Para o futuro, é esperado que as câmeras fiquem ainda mais inteligentes e ofereçam uma série de novos recursos, como por exemplo fazendo com que as câmeras sirvam como manuais de instrução. Ao apontar para um produto, este seria reconhecido e instruções de como manuseá-lo ou consertá-lo apareceriam na tela.
A Sony fala sobre uma pesquisa realizada pela empresa que indica que os consumidores gostariam que a câmera fosse capaz de medir seu corpo para avaliar o tamanho ideal de uma roupa. Uma extensão desse uso seria poder provar virtualmente um vestido, aplicando-o virtualmente sobre a imagem do seu corpo na câmera.
Nessa área, parece que realmente o céu e o limite, e como dizemos, se há 20 anos tivéssemos dito a um fabricante de câmeras que seu produto seria substituído por um telefone, seríamos considerados loucos...