A vulnerabilidade de crianças diante de potenciais perigos da
internet preocupa pais e educadores. Alguns, como o Prof. Valdemar Setzer (USP)
propõem atitudes radicais, como afastar quase que completamente as crianças da
Internet e da Tecnologia da Informação
Hoje, quando se fala em crianças e tecnologia, as preocupações
quase sempre giram em torno dos dados e do conteúdo. Mas, a julgar por
sucessivos alertas de especialistas, talvez fosse uma boa ideia dar mais
atenção para o próprio acesso a aparelhos como PCs, smartphones e tablets. Na
edição de 5 de maio do jornal O Estado de
S. Paulo, Camilo Rocha aborda o problema de forma muito feliz.
Afirma o colunista que a Academia Americana de Pediatria, uma
das maiores entidades de classe daquele país, diz que crianças entre 0 e 2 anos
não deveriam ter nenhuma exposição à tecnologia. Para outras faixas etárias, os
limites recomendados chegam a duas horas diárias apenas. Representantes da
Sociedade Brasileira de Pediatria já fizeram eco às recomendações de seus
colegas dos EUA, sugerindo que crianças não tenham TV ou computador dentro do
quarto.
Poucos estão ouvindo. A ONG norte-americana Common Sense Media,
especializada em questões da família, divulgou ano passado que 38% das crianças
com menos de dois anos nos EUA já usam dispositivos móveis. Não há números para
o Brasil, mas uma pesquisa recente da empresa de segurança AVG mostrou que 97%
dos meninos e meninas entre 6 e 9 anos e que têm pais que acessam a internet
também estão conectados. Mais: a média de horas que nossas crianças passam no
Facebook é o triplo da média mundial. Pode-se inferir portanto que as crianças
brasileiras também são usuárias muito frequentes de aparelhos eletrônicos.
Embora ainda falte comprovação científica dos efeitos desse uso prolongado, muitos especialistas
acham melhor não pagar para ver. O psicólogo brasileiro André Trindade sugeriu
em artigo recente para a Folha
de S. Paulo que habilidade motora e postura são prejudicadas
“enquanto as mãos e o olhar estão presos em um tablet por horas a fio”. O
educador americano Kim John Payne, autor do livro Simplicity Parenting,
alerta para o excesso de estímulos despejado por aparelhos eletrônicos em
cérebros que já têm muito trabalho decifrando o mundo que estão em processo de
descobrir.
Não se trata de deixar as crianças à margem de uma sociedade
cada vez mais tecnológica. Tablets, smartphones e PCs podem e devem estar
presentes no lazer e na educação. Mas é preciso moderação.
A recomendação também vale para fabricantes e varejistas. Uma
extensa consulta em sites de lojas e de marcas encontrou muitos modelos
direcionados a crianças. Em nenhum momento, porém, qualquer orientação sobre
tempo de uso ou idade mínima.
Esse é um tema que merece cada vez mais atenção de nossos pais e
educadores; estamos convictos de que, simplesmente colocar as crianças em contato
com a tecnologia não garantirá que nossas crianças serão pessoas e
profissionais melhores e de que o contato com equipamento eletrônico não
substitui o contato com pais, parentes e amigos.
Não vamos deixar que aquilo que a conhecida imagem abaixo mostra acabe acontecendo.