A Aspirina tem muito a ver com tecnologia: foi o
primeiro fármaco a ser sintetizado na história da farmácia e não recolhido na
sua forma final da natureza. Foi a primeira criação da indústria farmacêutica.
Sua história teve início quando o francês
Charles Frédéric Gerhardt e o alemão Karl Kraut começaram a estudar o
princípio ativo da planta Spiraea ulmari. Mas foi em
1897 que Felix Hoffman, um jovem farmacêutico da companhia alemã Bayer, que
procurava um jeito de ajudar o pai a combater o mal-estar crônico provocado
pelo reumatismo, com a ajuda do professor Heinrich Dreser sintetizou o ácido acetilsalicílico, criando a
fórmula de uma droga capaz de aliviar a dor sem muitos efeitos colaterais. No
ano seguinte a Bayer testou a nova droga com 50 pacientes, provando ser a mesma
extremamente eficaz; mandou o produto para testes médicos e os resultados foram
impressionantes. Além disso, a Bayer enviou um livro de 200 páginas sobre o
medicamento para 30.000 médicos, mostrando as vantagens da nova droga - foi a
primeira grande mala-direta da história.
Em 1899, o ácido acetilsalicílico foi lançado
comercialmente na Alemanha sob a marca
ASPIRIN; era inicialmente entregue às farmácias na forma de pó, em
frascos de 250 gramas; estas o revendiam em embalagens de papel de uma grama.
O nome ASPIRIN vem dos compostos usados na
fabricação do remédio: “A” de Acetil, “SPIR” da
planta Spiraea ulmaria (de onde era retirada a Salicin) e “IN” um
sufixo comum para medicamentos. Porém, uma lenda conta que o nome vem do santo
Aspirinus, que era o bispo de Nápoles e padroeiro dos que sofriam de dores de
cabeça.
O produto fez sucesso rapidamente, mas tinha
uma desvantagem - era pouco solúvel em água. Mais uma inovação da Bayer: para
resolver o problema, o produto passou a ser comercializado, em 1901, na forma
de comprimidos, sendo, um dos primeiros medicamentos do mundo a estar
disponível em uma dosagem padronizada. A formulação em comprimido tinha três
vantagens principais: assegurar que cada comprimido tivesse uma dosagem exata
do ingrediente ativo, acabar com a
falsificação do produto, e reduzir os
custos de produção. Nesta época, o novo medicamento tinha sido objeto de mais
de 160 artigos científicos, todos ressaltando seus efeitos benéficos, que iam
muito além do tratamento do reumatismo. Era considerado um poderoso remédio que
tratava uma gama maior de outras condições, como por exemplo, dores, nevralgia,
gripe, indisposição alcoólica, artrite, amidalite e até febre e diabetes.
Os primeiros registros de venda da Aspirina no
Brasil datam de 1901. O sucesso do novo medicamento foi tanto, que já em 1906,
ano em que a marca foi registrada internacionalmente, a imprensa da época
chamava a Aspirina de “The Wonder drug” (A droga maravilhosa). A
propaganda boca a boca garantiu
fantásticos rendimentos à Bayer. Não só na Alemanha, como nos outros países da
Europa e do resto do mundo, ela dominava o mercado. Há até quem diga que foi
ela a verdadeira impulsionadora (ou criadora) da indústria farmacêutica. Produtos
derivados foram sendo lançados, como a CafiAspirina, indicada para a enxaqueca,
pois combinava a ação analgésica e anti-inflamatória do ácido acetilsalicílico com um
agente potencializador (cafeína).
A Bayer perdeu a posse da marca Aspirina em
muitos países após a Primeira Guerra Mundial, como reparação de guerra aos
países aliados. Outros problemas, como falsificações, afetavam a Bayer, mas a
percepção de que o remédio ajudava a prevenir enfartes deram nova vida ao
produto, no início da década de 1950 – em 1952, o Livro
Guinness dos Recordes apontava a Aspirina como o analgésico mais consumido do
mundo. Na década de 1960, a Aspirina foi ameaçada pelos medicamentos à base de
acetaminofeno e suas vendas caíram seriamente - mesmo assim, em 1969 as pílulas
brancas chegavam à Lua, a bordo da nave Apollo 11, prontas para livrar os
astronautas norte-americanos de eventuais dores de cabeça.
Hoje, Aspirina é marca registrada da Bayer AG na Alemanha e em mais de 60 países. Calcula-se que o mundo consome atualmente 216 milhões de comprimidos por dia (uma média de 2.500 unidades por segundo), o que representa para a Bayer um faturamento de €750 milhões por ano. De todas as drogas vendidas legalmente e sem receita, calcula-se que a Aspirina responda por 35.8%, o que faz dela um ícone, uma espécie de Coca-Cola das farmácias. Para a revista americana Newsweek há 5 inventos do século XX sem os quais não seria possível viver: automóvel, lâmpada, telefone, TV e... Aspirina.
Curiosamente, a Argentina consome um quarto de
todas as Aspirinas tomadas no mundo - os argentinos são os que mais utilizam o medicamento: cada
habitante toma uma média de 80 comprimidos por ano! No Brasil, são mais de 92
milhões de comprimidos consumidos todos os anos. Nos países onde Aspirina não é
protegida por marca registrada, como nos Estados Unidos, o nome pode ser
utilizado genericamente para todos os produtos que contenham como substância
ativa o acido acetilsalicílico.