Nestes tempos em que há uma guerra comercial entre a China e os Estados Unidos em disputa pelo mercado da tecnologia 5G, alguns governos têm ameaçado ou tomado medidas contra a China.
As atitudes desses governos têm sido causadas por interesses de natureza comercial ou ideológicos – esses últimos justificados de forma tosca. Temos dito que, em função de atitudes de nossos governantes, o Brasil pode ser envolvido nessa guerra e acabar derrotado, não importa quem for o vencedor e até mesmo se a guerra terminar em empate.
A China acaba de mostrar o que pode acontecer a quem toma partido claro nessa briga: estabeleceu um aumento de impostos para importação de vinho australiano. Esse aumento, que varia entre 107% e 212%, é temporário, mas não tem data para terminar.
A China é o maior importador de vinhos australianos – 37% da produção. As novas tarifas farão com que o preço ao consumidor triplique, o que inviabiliza as vendas, permitindo que vinhos de outras procedências ganhem mercado.
Medidas similares já haviam sido tomadas para a importação de cevada australiana e agora entraram em vigor novas providências que dificultam a entrada na China de outras commodities australianas: estão retidos nas costas do país cerca de 60 navios que transportam minério, extraído por grandes empresas como BHP, Glencore e Anglo-American.
Levando-se em conta que apenas o custo diário de um desses navios, quando parado, está ao redor de US$ 22 mil, pode-se começar a avaliar o tamanho dos prejuízos que a China pode causar aos que a desafiarem.
Esperamos que nosso governo conduza o assunto de forma racional, com extrema cautela, sem fanfarronices, pois é muito perigoso desafiar, ao mesmo tempo, dois de nossos maiores parceiros comerciais e as duas maiores economias do mundo, China e os Estados Unidos, como parece que estamos fazendo agora em função da derrota de Trump.
(*) Vivaldo J. Breternitz, Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor da Faculdade de Computação e Informática da Universidade Presbiteriana Mackenzie.