Em recente artigo, Guy Perelmuter confirma a validade da expressão que está no título deste post: não há nada de novo sob o sol.
Perelmuter conta que a história das invasões não-autorizadas a sistemas - os "hackeamentos” - começou há mais de cem anos, quando uma das tecnologias pioneiras desenvolvidas para interconectar a sociedade estava nos seus primórdios. Em mais uma ironia da História da Ciência, um dos primeiros hackers do mundo - e provavelmente o primeiro hacker do mundo moderno - foi um inventor e mágico profissional, o inglês Nevil Maskelyne (1863–1924).
Marconi |
Conforme o jornalista inglês Paul Marks relata, em reportagem publicada pela revista New Scientist em 2011, tudo estava pronto para a primeira demonstração de uma nova tecnologia desenvolvida pelo inventor italiano Guglielmo Marconi (1874-1937): a transmissão sem fio de mensagens em código Morse através de longas distâncias. Em um dia de verão do ano de 1903, Marconi estava na localidade de Poldhu, na Inglaterra, pronto para enviar uma mensagem até o auditório da Royal Institution of Great Britain, em Londres, a cerca de 450 quilômetros de distância. Mas antes de Marconi enviar sua mensagem de demonstração, o equipamento em Londres recebeu outra mensagem: inicialmente, a palavra “ratos” repetida várias vezes, e depois trechos de peças de Shakespeare (trata-se de um hacker britânico, afinal de contas) modificados para insultar e provocar Marconi.
Maskelyne |
O autor do livro Wireless, de 2001, Sungook Hong, explica que Maskelyne, um mágico com particular interesse na comunicação sem fio (útil para seus truques), como tantos outros inventores esbarrou nas patentes genéricas depositadas por Marconi e que impediam desenvolvimentos na área realizados por terceiros - desnecessário dizer que Maskelyne não era o maior fã de Marconi. Em sua carta ao The Times, justificou o hackeamento como algo feito “pelo bem do público geral”, visando revelar e corrigir as falhas na segurança deste tipo de comunicação - uma justificativa utilizada até hoje por hackers ao redor do mundo.
Maskelyne havia sido contratado dois anos antes, no final de 1901, pela Eastern Telegraph Company - responsável pelos cabos submarinos que ligavam o Reino Unido à Indonésia, Índia, África, América do Sul e Austrália - e que poderia ver seu negócio simplesmente desaparecer com o advento da transmissão sem fio na qual Marconi estava trabalhando. De fato, o progresso científico pode impactar dramaticamente negócios bem estabelecidos, a exemplo do que ocorreu com a Kodak e com a Blockbuster, embora o negócio dos cabos submarinos continue cada vez mais próspero...