Até há não muito tempo, as pessoas utilizavam um ou no máximo dois computadores. Nesse ambiente, era fácil compartilhar arquivos – bastava copia-los para um pen drive ou para um disco portátil (HD externo) e transferir os arquivos de uma máquina para outra – mesmo assim, às vezes ocorria algum erro ou esquecimento e era necessário “correr atrás do prejuízo”. Muitos preferiam enviar os arquivos para si próprios por email, e depois salva-los na outra máquina.
Atualmente, o cenário mudou: temos um desktop em casa e/ou no trabalho, um notebook, um ou mais smartphones, tablet etc., fazendo o compartilhamento de arquivos se tornar algo bastante complexo e trabalhoso – consequentemente sujeito a erros, como perda de arquivos, manutenção de arquivos desatualizados etc., além do tempo gasto para deixar os arquivos organizados.
Para se ter uma idéia mais precisa da situação, basta lembrar que segundo o instituto de pesquisa Forrester Research, nos Estados Unidos cerca de 60% dos adultos com acesso à Internet têm pelo menos dois desses equipamentos e quase 3% têm nove ou mais aparelhos diferentes! Para tornar o cenário ainda mais complicado, às vezes pessoas da família ou amigos também precisam ter acesso aos mesmos arquivos, utilizando outras máquinas.
Mas uma idéia antiga parece estar voltando à moda para evitar todo esse trabalho: salvar os arquivos “na nuvem” e depois acessa-los a partir de qualquer dispositivo; em 2005 o Google lançou a primeira ferramenta desse tipo a se tornar popular, o Google Docs.
Na atualidade, operando o conceito que agora se chama “cloud computing” (computação na nuvem), diversas empresas focadas nesse tipo de serviço estão crescendo, ganhando visibilidade: Dropbox, YouSendIt.com, Box.net, 4Shared e SpiderOak. A Apple acaba de lançar um serviço similar, iCloud.
"Nossa visão é simplificar a vida das pessoas", disse Drew Houston, executivo-chefe da Dropbox, empresa que tem 25 milhões de usuários que armazenam 300 milhões de arquivos por dia e que já tem mantem 100 bilhões de arquivos em seus servidores.
A possibilidade de acesso à Internet a partir de quase todos os lugares e a queda nos preços de computadores e periféricos tem ajudado esses serviços a prosperar: espaço para armazenamento em mídia magnética é hoje oito vezes mais barato do que em 2005. Isso permite a muitos fornecedores cederem gratuitamente espaços pequenos para armazenagem, esperando que os usuários percebam a vantagem dessa forma de arquivamento e paguem por espaços maiores; no Dropbox, os preços começam em US$ 20 ao mês, havendo promoções, como espaço adicional dado aos clientes que trazem outros.
Mas há uma grande preocupação com relação à armazenagem na nuvem: segurança. Embora não haja casos registrados de furto de dados desses serviços, muitos usuários ainda relutam em usa-los. Recentemente, um especialista em segurança da informação queixou-se formalmente a órgãos do governo americano acerca da forma como a Dropbox protege os arquivos que armazena; segundo o queixoso, empregados da empresa poderiam ter acesso aos mesmos, o que a empresa nega, dizendo adotar níveis de segurança similares aos adotados pelos bancos e forças armadas.
De qualquer forma, o negócio vem crescendo: recentemente a Amazon lançou seu Cloud Drive e uma nova empresa, a Cx.com, financiada por uma empresa controlada por Eric Schmidt, chairman e ex-presidente executivo do Google começou a operar em janeiro deste ano, de forma experimental e ainda não está cobrando por seus serviços.
Como quase sempre acontece, resta saber se essa tendência se consolidará ou se estamos diante de mais um modismo.
Mas... há sempre um “mas”: a ONG Internet Archive, que tem por objetivo manter uma biblioteca contendo todo o material já digitalizado, músicas, animações, livros etc – já tem cerca de 3 milhões de livros arquivados e espera chegar a 10 milhões (estima-se que até hoje 100 milhões de livros foram publicados em papel). E essa organização inaugurará em junho de 2011 armazens para guardar cópias em papel de todos os seus livros!
O armazém da Internet Archive |
E por que cópias em papel? Segundo seus dirigentes, para que sirvam para resolver qualquer disputa acerca da fidelidade do material digital em relação ao original. Esses dirigentes não dizem, mas há alguns outros problemas envolvendo cloud computing: a armazenagem digital por períodos muito longos ainda não é totalmente segura, e que mesmo nos ambientes em que há alta redundância e disponibilidade podem ocorrer dois fenômenos, o chamado “bit rot” (apoderecimento dos bits), em que a carga elétrica se perde e com ela os dados e os “flipped bits”, quando ocorre alteração dos dados ao se transferir arquivos de um ponto para outro – as ferramentas que pretendem evitar esses problemas ainda não são totalmente seguras.
Situações como essa mostram que frequentemente uma tecnologia que parece condenada, como os livros em papel, pode sobreviver.