Em meados de 2001,
publicamos no jornal “O Tempo”, de Belo Horizonte, artigo no qual discutíamos a
possibilidade de conexão à Internet através da rede elétrica, eliminando os
problemas referentes à chamada “última milha” (last mile), que sempre
foi o pesadelo dos profissionais de telecomunicações: trata-se do trecho,
usualmente curto, que conecta as residências e escritórios aos canais de
comunicação de banda mais larga.
Esse trecho, normalmente
constituído por linhas de tecnologia mais antiga e frequentemente instaladas de
forma mais precária, acaba comprometendo a performance não só de serviços mais
sofisticados, como a Internet, mas às vezes até mesmo do serviço telefônico
padrão.
Decorridos 16 anos, pouco se avançou nesse sentido, exceto no que se refere à conexão
wireless (wi-fi), quase sempre restrita a ambientes menores, especialmente nos países menos
desenvolvidos.
Agora, o assunto volta à
pauta, desta vez transformando lâmpadas em dispositivos capazes de permitir a
conexão à web. A nova tecnologia, chamada li-fi – ‘light fidelity’, começou a ganhar forma no final deste ano,
quando começaram testes na Europa com lâmpadas
compatíveis com essa tecnologia.
O Professor Haas |
Embora a tecnologia
tenha sido apresentada (de forma conceitual) há cinco anos pelo professor Harald
Haas, da Universidade de Edimburgo, o li-fi ganhou notoriedade recentemente,
quando os primeiros resultados dos testes em condições reais foram divulgados,
tendo a empresa estoniana Velmenni
comprovado que é possível transmitir dados através da luz, de maneira estável e
com maior segurança do que a conexão wi-fi.
Desde 2003 Haas tentava encontrar uma forma de
democratizar o acesso à internet. Observou a quantidade de lâmpadas que estão
ao nosso redor e sabendo que o wi-fi e a conexão móvel dependem de antenas e
roteadores para serem utilizados pois utilizam
frequências de rádio, tendo por isso
custo mais alto e sendo sujeitos a interferências, resolveu pesquisar o uso de
outra frequência, a da luz visível.
A
ideia é que uma lâmpada LED transmitia os sinais, através de oscilações na sua
luz (em nano segundos, totalmente imperceptíveis ao olho humano); será
necessário que os dispositivos a serem conectados tenham receptores específicos
para captar essas oscilações – ainda não estão disponíveis computadores e
celulares com esses receptores.
Diferentemente
do wi-fi, que utiliza sinais de rádio para transmissão, com um limite atual de
867 megabits por segundo, o li-fi, por funcionar com luz não visível, atinge
velocidades muito superiores; a tecnologia vem sendo aperfeiçoada, tendo se conseguido transmitir dados a 224 gigabits
por segundo; para se ter uma ideia dessa velocidade, cerca de 18 filmes
poderiam ser baixados em 1 segundo. É difícil prever qual será a velocidade de
um produto comercial, pois isso ainda depende dos padrões que serão adotados; com
certeza será maior que a do wi-fi, mas
não tão grande quanto a obtida em testes. Vale lembrar que o record de
velocidade em terra é do carro inglês Thrust 2, que chegou a 1.228 km/h,
enquanto o record da F1 corridas é de Valtteri Bottas, 372 km/h, ou seja, um produto “comercial”,
quase nunca tem a performance obtida em testes de laboratório.
Outra
vantagem do li-fi está na segurança, pois como a luz não atravessa paredes, ficará
mais difícil o acesso de “intrusos”. Além
disso, Li-fi possui a vantagem de ser apta para uso em áreas
sensíveis às ondas eletromagnéticas, como cabines de aeronaves, hospitais e
usinas nucleares, pois não causam interferência
eletromagnética.
Por
enquanto, o li-fi só funciona bem em ambientes fechados; especialistas
acreditam que a tecnologia tende a ser utilizada complementando o wi-fi, pois em
determinadas situações, com um celular dentro de uma gaveta ou em um bolso, ele
ficaria desconectado.
Apesar
de promissora, tecnologia ainda exige
muita pesquisa até que possa ser disponibilizada
para uso comercial, e isso deve consumir ainda bastante tempo.